O palco do Unibes Cultural recebeu nesta sexta-feira (24) o painel Os efeitos da 4ª Revolução Industrial na Gestão de Resíduos, na abertura do segundo dia de atividades da edição de 2018 da Virada Sustentável em São Paulo.
No evento, Carlos Silva Filho, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Sabrina Gimenes de Andrade, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), e Davi Bomtempo, gerente executivo de meio ambiente e sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI) debateram os problemas e as potenciais soluções para a questão dos resíduos sólidos. A conversa foi mediada pelo jornalista Caco de Paula.
“Qual pegada queremos deixar para nosso planeta? Essa é a questão que inicia o debate para o rumo que levaremos nossa vida”. Com este questionamento, Carlos Silva Filho abriu a mesa. Para ele, o retrospecto não é exatamente positivo e alguns pontos parecem irreversíveis. Ele lembrou que já foram encontrados resíduos de origem humana tanto no ponto mais alto do planeta, o Monte Everest, quanto no mais profundo, as Fossas Marianas, no fundo do oceano Pacífico. No entanto, a perspectiva é de um novo olhar para o futuro.
O presidente da Abrelpe apresentou uma pesquisa global, realizada com líderes empresariais de 97 países, na qual 97% deles afirmam que a 4ª Revolução Industrial irá afetar a questão dos resíduos e da reciclagem – sendo que o surgimento de novos materiais, a robotização para tratamento dos resíduos e o redesign são apontados como os efeitos mais prováveis deste movimento. “Haverá novos produtos, mas também novos resíduos”, afirmou. E citou o caso da Apple, que assumiu o compromisso de usar materiais reciclados na produção de seus produtos.
“Temos que aproveitar a crise para mudar nosso padrão de vida ou teremos problemas para o futuro”, disse. “Vamos trazer inovações para nosso setor. Podemos incluir tecnologia na esfera dos produtores, como, por exemplo, incluir sensores para recuperar embalagens cuja responsabilidade da destinação é das empresas”, explicou.
“Caso contrário, seremos engolidos pela próxima geração de negócios”, sentenciou.
Quais são as soluções para a destinação dos resíduos sólidos?
“A gente se adapta às condições mais absurdas. Olhamos a poluição em um igarapé da Amazônia, mas não percebemos o concreto da cidade, ou aceitamos o cheiro nauseabundo do rio Pinheiros”, problematizou o jornalista Caco de Paula para abrir o debate. “Temos que buscar soluções sustentáveis com uma visão propositiva para o futuro”, afirmou.
Para Davi Bomtempo, da CNI, um dos fatores mais importantes é educar a população a fazer a coleta seletiva adequada e, além disso, incluir elementos da economia circular na sociedade, casos da reciclagem e da recuperação energética. “Temos que assumir uma abordagem mais circular em relação aos resíduos. A indústria tem que produzir de forma modular e cuidar para que toda a cadeia produtiva tenha essa preocupação, desde o começo”, disse o gerente da CNI.
Sabrina Gimenes de Andrade também aponta como determinante a educação do consumidor para que ele compre de forma sustentável e a assuma sua parcela de responsabilidade no pós-consumo, além de incluir o Estado neste processo. “A função do Estado é facilitar e dar condições para se efetivar a reciclagem e a logística reversa”, afirmou. “Há dificuldades financeiras em apoiar mais. Seria ideal se houvesse pelo menos uma recicladora em todos os estados do país, mas ainda não é uma realidade concreta”, informou a coordenadora geral de resíduos sólidos do MMA.

A importância da percepção do lixo é o elemento chave para propor uma nova perspectiva, de acordo com Carlos Silva Filho. “Na gestão de resíduos sólidos, é o elemento que está faltando. Precisamos ter a visão de que se continuarmos assim não vamos só matar focas e tartarugas, mas também seres humanos”, afirmou. “O cidadão precisa se apropriar desta questão para pressionar governos e empresas”, recomendou.
O problema dos lixões
O presidente da Abrelpe informou que, anualmente, o Brasil produz 78 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, o que o classifica como o quinto maior produtor de lixo do mundo. Por outro lado, o país recicla apenas 3% desse lixo e envia 40% do total para os lixões – são cerca de 3 mil em todo país.
“Afeta o cidadão miserável que trabalha nos lixões, mas também contamina solos, água e ar das cidades”, afirmou Carlos Silva Filho. A preocupação com a sustentabilidade do ponto de vista social na questão dos resíduos sólidos também foi considerada uma das prioritárias pelos debatedores.
“As pessoas precisam assumir novas funções e é nosso papel focar em propiciar qualificação profissional para esses trabalhadores”, recomendou Davi Bomtempo. “O nosso sonho é conseguir transformar os trabalhadores do lixão em recicladores regulamentados”, concluiu Sabrina Gimenes de Andrade.
Conteúdo publicado em 24 de agosto de 2018