Populações de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram cerca de 60% no mundo todo e 89% em regiões tropicais. A falta de cuidado ambiental pode custar até US$ 125 trilhões por ano

A edição de 2018 do relatório bienal produzido pela ONG internacional WWF chamado Planeta Vivo apresenta um quadro bastante preocupante para a biodiversidade do planeta: de acordo com o trabalho, entre 1970 e 2014, as populações de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram cerca de 60%; e nas regiões tropicais como a América do Sul, a redução foi de 89%.

Considerado uma das principais avaliações de cunho científico sobre a saúde da Terra e produzido em parceria entre mais de 50 especialistas acadêmicos, governamentais e de entidades de desenvolvimento internacional e conservação, o documento afirma que a Amazônia já perdeu 20% de sua área. Se o desmatamento ultrapassar a marca dos 25%, o ecossistema chegará a um ponto crítico, no qual seu colapso poderá levar a uma desertificação sem retorno.

E o Brasil tem um papel chave para o equilíbrio ambiental do planeta: a WWF destaca que o país tem um papel decisivo na degradação ambiental, com mais de 60% de seu território coberto por vegetação natural, e também uma posição extremamente importante na produção de alimentos para o mundo.

Leia mais:
Animais estão se tornando mais noturnos para evitar os humanos
ONU afirma: temos apenas 12 anos para reverter o aquecimento global
Hoje, sustentabilidade tem de ser social, econômica e ambiental

No entanto, os índices referentes à biodiversidade no país são delicados: há 3.286 espécies dentro do território brasileiro, dos quais 785 estão criticamente em perigo (pior estágio na metodologia adotada) e a maioria tem como habitat a Mata Atlântica, o bioma mais desmatado do país. “Infelizmente, o governo federal não investe em modelos de desenvolvimento econômico que valorizam a floresta em pé, como explorar seu potencial para a indústria química e cosmética, ou então incentivar o ecoturismo”, lamenta Mariana Napolitano, coordenadora do núcleo de ciências do WWF-Brasil, em entrevista ao jornal O Globo.

Risco econômico pode chegar a US$ 125 trilhões por ano

Todas as atividades econômicas realizadas pelo ser humano, em alguma medida, exigem recursos da natureza. De acordo com o relatório Planeta Vivo, estima-se que a soma de serviços naturais como o fornecimento de ar fresco, água potável, alimentos e energia represente cerca de US$ 125 trilhões por ano. Sua destruição, alerta o documento, pode provocar também um risco econômico de grande proporção.

Há estudos sendo desenvolvidos por governos, empresas, ONGs e setor financeiro para entender como os riscos ambientais globais afetarão a macroeconomia dos países, dos setores e dos mercados financeiros. A WWF lista, entre os riscos, o aumento da pressão sobre terras agrícolas, a degradação do solo, o estresse hídrico e as condições climáticas extremas e seus eventos.

Em um artigo publicado pela revista científica Nature em 2016, pesquisadores analisaram as ameaças mais comuns enfrentadas por mais de 8.500 espécies ameaçadas ou quase ameaçadas da Lista Vermelha da IUCN 10 e constataram que as atividades econômicas relacionadas à superexploração e à agricultura são o maior fator de redução da biodiversidade: afirma-se ambas foram a causa do desaparecimento de 75% de todas as espécies de plantas, anfíbios, répteis, aves e mamíferos extintas desde 1500 d.C.

Potenciais alternativas à perda de biodiversidade

“A agenda da conservação da natureza não é apenas sobre garantir o futuro dos tigres, pandas, baleias e toda a incrível diversidade de vida que amamos e apreciamos na Terra. É maior que isso. Não pode haver um futuro saudável, feliz e próspero para as pessoas em um planeta com clima desestabilizado, oceanos e rios esgotados, terras degradadas e florestas vazias, todas desprovidas de biodiversidade, a teia da vida que sustenta todos nós”, afirma em editorial Marco Lambertini, diretor geral da WWF International.

A WWF, no documento, apresenta um plano de ação com três etapas necessárias para a agenda pós-2020, quando será avaliado o desempenho global em relação às metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). As três fases determinam: 1) especificar claramente o objetivo para a recuperação da biodiversidade; 2) criar um conjunto de indicadores mensuráveis e relevantes de progresso; e 3) acordar um conjunto de medidas que possam alcançar coletivamente o objetivo no prazo necessário.

“Nos próximos anos, precisamos urgentemente transitar para uma sociedade neutra em carbono e deter e reverter a perda da natureza – por meio de financiamento verde, energia limpa e produção de alimentos ecologicamente correta. Poucas pessoas têm a chance de fazer parte de transformações verdadeiramente históricas. Essa é a nossa”, conclui Lambertini.

 

 

Conteúdo publicado em 3 de dezembro de 2018

Veja Também