Preocupações éticas e ambientais entram no mercado do vestuário e fazem com que o varejo se reinvente. Garrafas recicladas viram matéria prima para tecidos sintéticos e calçados

Quem passa pela loja da grife de roupas Everlane, em São Francisco, pode se surpreender: na vitrine, boa parte das roupas é de plástico reciclado. A coleção, chamada ReNew, tirou três milhões de garrafas plásticas dos oceanos, aterros sanitários e praias para reaproveitar o material transformando-o em tecido sintético.

A linha de parkas de plástico e jaquetas da Everlane segue uma tendência cada vez mais forte no mundo do vestuário e que já tem nomes como Adidas e H&M: incorporar plástico reciclado em suas mercadorias. Há quem vá além: a linha Outerknown, do ícone do surfe e 11 vezes campeão mundial Kelly Slater, reaproveita todos os tipos de lixo da costa para a fabricação de roupas. Já a Timberland se concentra apenas em garrafas de água.

“Os plásticos vivem para sempre”, diz Michael Preysman, da Everlane, em entrevista à Wired, publicação especializada em inovação e novas tecnologias. As garrafas de água – coletadas, lascadas, derretidas e fiadas – podem ter uma segunda vida como calças de yoga, uma jaqueta fofa ou um par de tênis.

A empresa de Preysman também assumiu o compromisso de remover completamente o plástico virgem de sua cadeia de suprimentos nos próximos três anos, substituindo todas as embalagens plásticas, puxadores de zíper e tecidos sintéticos em suas roupas. Poliéster, lycra e nylon – os materiais que proporcionam elasticidade em roupas esportivas e durabilidade em roupas íntimas – são derivados de plástico.

Como funciona

No caso da Everlane, tudo começa com parcerias firmadas com grupos em Taiwan e no Japão, responsáveis pela coleta de garrafas de água usadas. As garrafas são classificadas por cor (apenas as claras podem ser usadas), despojadas de suas tampas, higienizadas e enviadas para um moedor, onde são pulverizadas em lascas, derretidas e transformadas em um fio fino, que costurado em roupas ou que vira recheio de algumas peças.

É também uma experiência de aprendizado, tanto para a Everlane quanto para seus consumidores. Hoje, custa 10% a 15% mais fazer roupas com garrafas de água recicladas e não com tecidos sintéticos virgens. A empresa aposta no fato de que as pessoas pagarão mais para comprar um produto mais sustentável, e que quanto mais marcas incorporarem plástico reciclado aos seus projetos, com a escala, os custos cairão.

A história da Everlane

Quem lê a apresentação pode até pensar que se trata de um projeto para o futuro. “Na Everlane, queremos que a escolha certa seja tão fácil quanto colocar uma camiseta ótima. É por isso que fazemos parceria com as melhores e mais éticas fábricas do mundo.” A loja de roupas online idealizada por Michael Preysman promete ética, preço justo e sustentabilidade. “Trabalhamos apenas com os materiais mais finos. E compartilhamos essas histórias com você – inclusive o real custo de cada produto que fazemos. É um novo jeito de fazer as coisas. Nós chamamos isso de Transparência Radical.”

Formado em engenharia e economia em Pittsburgh, Preysman criou, em 2010, aos 25 anos, uma proposta inovadora para o mercado da moda: atrelar qualidade à ética de ponta à ponta na cadeia de produção. Isso com um design duradouro e aderente às mais severas políticas de proteção ao meio ambiente e respeito à mão de obra, criando um elo de confiança entre colaboradores internos e consumidores. “Nós acreditamos que nossos clientes têm o direito de saber quanto custa fazer as roupas.”

Até hoje, a Preysman arrecadou US $ 18 milhões em financiamento de investidores. A empresa oferece uma gama completa de roupas femininas e masculinas, além de artigos de couro e calçados. Em 2015, Preysman foi incluído na lista anual “30 Under 30” da Forbes por seu trabalho com a Everlane e por “reinventar o varejo e o comércio eletrônico”.

Agora com 33 anos, Preysman continua inovando. No ano passado, a empresa se concentrou em produzir jeans que reduzissem a poluição da água com corante e outros produtos químicos. Quando começou a vender camisas de seda, a Everlane classificou seu material como “seda limpa”, feita sem corantes tóxicos.

Mas ele espera que, em breve, a seda seja feita com água 100% reciclada. “As empresas são responsáveis, em nossa opinião, por fazer a coisa certa”, diz Preysman. “Se eles não estão fazendo mudanças em sua cadeia de suprimentos, eles estão ativamente optando por colocar seu lucro na conta do planeta”.

Conteúdo publicado em 20 de setembro de 2019

O que a Braskem está fazendo sobre isso?

A Braskem é patrocinadora do SPFW desde 2016. Na 46ª edição da São Paulo Fashion Week (2018), a Braskem, em parceria com a marca PatBo, da estilista Patrícia Bonaldi, realizou um Desafio de Moda que levou o plástico para as passarelas do evento. Estudantes de cinco faculdades de moda de São Paulo foram desafiados a criar uma coleção que expressasse a identidade da estilista por meio do fio de polipropileno. O projeto vencedor foi apresentado durante o desfile da PatBo no SPFW. O polipropileno, um dos plásticos produzidos pela Braskem, foi escolhido como material por suas características: é durável, leve e resistente, além de ser 100% reciclável e poder ser tingido a seco, o que reduz o consumo de recursos hídricos.

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