O aquecimento global pode colocar a cerveja em risco. A conclusão é do estudo liderado por pesquisadores da Universidade Chinesa de Pequim e da Universidade de East Anglia (Inglaterra), publicado jornal científico Nature Plants: se o ritmo atual de aumento na temperatura do planeta continuar, fenômenos climáticos como secas e ondas de forte calor irão afetar as principais regiões produtoras de cevada e lúpulo em todo mundo – inclusive levando as duas matérias-primas a risco de extinção.
De acordo com as estimativas do levantamento, o resultado pode ser um aumento severo no preço da cerveja: o valor do litro dobraria ou até triplicaria e geraria queda de 16% no consumo global da bebida, nada menos que 29 bilhões de litros anuais – equivalente ao consumo norte-americano em um ano. “Embora esse não seja o impacto futuro mais preocupante da mudança climática, extremos climáticos relacionados a isso podem ameaçar a oferta e a acessibilidade econômica da cerveja”, afirma o estudo.
A queda no consumo e na produção de cerveja tem efeitos mais severos do que o aumento no preço final do produto. No Brasil, a indústria da cerveja responde por 1,6% do PIB do país e gera mais de 2,7 milhões de empregos, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja.
O que pode ser feito?
“Com esses dados juntos [informações das mudanças climáticas, das safras de cevada, do comércio internacional e de condições socioeconômicas], pudemos estimar o impacto que o cenário terá na cerveja, um produto essencial para uma quantidade significativa de pessoas no mundo”, disse Dabo Guan, um dos líderes da pesquisa, em entrevista à rede britânica BBC.
A cerveja, hoje, é a terceira bebida mais consumida do mundo (a primeira entre as alcoólicas), atrás somente da água e do café: anualmente, são 182 bilhões de litros.

A ciência e a tecnologia podem ao menos mitigar parte do problema. Para o cientista Davis Charles Denby, da Universidade da Califórnia (EUA), é possível substituir o lúpulo por leveduras transgênicas, com genes de hortelã e manjericão. A técnica reduziria os impactos ambientais da produção do lúpulo sem prejuízo à qualidade do produto.
“Além do uso como alternativa para minimizar os impactos da possível extinção do lúpulo, os microrganismos geneticamente modificados têm potencial para biorremediação de águas e solos poluídos”, explica Adriana Brondani, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).
Contudo, para Nathan Mueller, outro pesquisador envolvido no trabalho ouvido pela BBC, a solução é uma só: criar conscientização ambiental. “Se conseguirmos diminuir nossas emissões de gases de efeito estufa e limitar a magnitude geral das mudanças climáticas, ajudaremos a evitar os piores cenários que simulamos nesta análise”, recomendou.
Conteúdo publicado em 24 de junho de 2019