No fim de 2017, a Microsoft resolveu arregaçar as mangas para ajudar a realizar mudanças efetivas para o planeta. Mais do que reciclar o lixo e usar painéis solares em seus escritórios, a companhia fundada por Bill Gates ofereceu o que sabe fazer de melhor, tecnologia, para aumentar a eficiência da distribuição de energia, tornar a previsão do tempo mais precisa, gerenciar o uso de água, entre outros.
A empresa fez isso com a ampliação do AI for Earth (Inteligência Artificial para a Terra). O compromisso é aplicar US$ 50 milhões nos próximos cinco anos para colocar tecnologia de Inteligência Artificial (IA) à disposição de agentes da mudança. “Embora os avisos dos especialistas sejam terríveis, a Microsoft acredita que os avanços tecnológicos podem nos ajudar a entender e abordar melhor os problemas ambientais enfrentados pelo nosso planeta”, escreveu Brad Smith, presidente e diretor jurídico da empresa.
Nos primeiros seis meses do programa, foram mais de 30 projetos apoiados em mais de 10 países para acessar a tecnologia de inteligência artificial da empresa, além de levar esse conhecimento a universidades e ONGs. Com isso, a empresa uniu seu conhecimento ao de parceiras ao redor do mundo para gerar mudanças práticas. Por exemplo: uma das beneficiadas, a empresa The Yield, da Austrália, usa sensores, análises e aplicativos para produzir dados meteorológicos em tempo real, permitindo que os agricultores tomem decisões que possam reduzir o uso de água e outros insumos, além de aumentar os rendimentos.
A ação da Microsoft vai ao encontro do que diz o relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, de 1987: o desenvolvimento sustentável supre as necessidades do presente sem comprometer o bem-estar das futuras gerações. Embora muitas águas tenham rolado desde então, e o conceito ganhado novos contornos, a definição da Organização das Nações Unidas ainda serve como linha-mestra para pensar os rumos do planeta.
O despertar da consciência
Em 1962, a bióloga e conservacionista americana Rachel Carson despertou clamor internacional com seu livro Primavera Silenciosa, jogando os holofotes para o uso sem controle de pesticidas. Foi uma época em que ativistas fundaram organizações e focaram as corporações pela primeira vez. A WWF, criada em 1961, Friends of the Earth e Greenpeace (ambas de 1971), tiveram como uma de suas bandeiras a proibição mundial da caça às baleias, que veio finalmente em 1986.
A partir de então, as empresas acrescentaram a preocupação ambiental às suas práticas e hoje a sustentabilidade é levada em conta inclusive no valor de mercado das companhias. E estão, cada vez mais, ampliando seu foco para além do lucro, considerando também como podem criar valor na sociedade atual e serem bem sucedidos no futuro. Esses princípios vão ao encontro da Carta da Terra, documento da sociedade civil lançado em 2000 ampliou a definição de sustentabilidade para incluir a ideia de uma sociedade global “fundada no respeito à natureza, aos direitos humanos universais, na justiça econômica e na cultura da paz”.
Para alcançar esses objetivos seria preciso rever os princípios não apenas em relação à proteção ao ambiente, mas também à responsabilidade social e às práticas econômicas. Nesse sentido, 2015 é um marco. Foi quando a ONU lançou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que substituiu os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), lançados em 2000. Os ODS, apoiados por 193 países, eram uma visão global para um mundo mais justo e sustentável. Os líderes globais fizeram história ao conseguir o Acordo de Paris das mudanças climáticas – apesar da não ratificação dos Estados Unidos e da China na ocasião.
“Em 2015, houve uma mudança definitiva do simples gerenciamento de risco para um novo posicionamento das empresas em como elas poderiam agregar valor à sociedade”, disse ao Guardian Lindsay Hooper, do Instituto Cambridge de Liderança em Sustentabilidade. “Os negócios serão os líderes no cumprimento dos objetivos globais, com o apoio de políticas construtivas e investimento socialmente responsável.”
Da biodiversidade à geração de energia
Desde a proibição da caça às baleias, a pauta da conservação do ambiente e da vida selvagem segue firme, ao mesmo tempo em que cresce a preocupação com geração de energia para sustentar o crescimento da população. Para os especialistas em sustentabilidade, essa hoje é uma das demandas mais urgentes, afinal, eletricidade, luz, aquecimento e combustível são fatores-chave no crescimento econômico, na eficiência da produção de alimentos e para se alcançar padrões elevados de vida. Como diz o relatório da ONU da Cúpula do Clima de 2012, a Rio+20, “o acesso a serviços modernos de energia sustentável contribuem para a erradicação da pobreza, salva vidas, melhora a saúde e ajuda a prover necessidade humanas básicas”.
Foi por isso que alguns grupos começaram a defender, muito antes da Rio +20, que os governos adotassem novas abordagens às suas políticas energéticas, como a conservação e eficiência no uso e a geração de energias renováveis como eólica, solar e de biocombustíveis, dando menos preferência ao petróleo, gás e carvão, ainda que levando em conta que essas fontes permaneçam sendo essenciais em muitos casos.
Uma sociedade sustentável
O entendimento atual é de que uma sociedade sustentável é baseada em acesso igualitário a cuidados médicos, à nutrição, água limpa, moradia, educação, energia, oportunidades econômicas e emprego. Numa sociedade ideal, humanos vivem em harmonia com seu ambiente, conservando recursos não apenas para sua própria geração, mas também para os descendentes dos seus descendentes. Todos os cidadãos aproveitariam uma alta qualidade de vida e haveria justiça social para todos.
Para isso, as empresas são fundamentais. Elas são chamadas a criar práticas de longo prazo que fazem mais do que respeitar o meio ambiente, o bem-estar dos funcionários e o futuro das gerações vindouras. Ao mesmo tempo, espera-se delas que aumentem a rentabilidade, seu valor de mercado e financiem inovação. Não se trata mais de levantar bandeiras, mas de sobreviver num mundo que mudou.
Conteúdo publicado em 5 de junho de 2018