Pesquisadores descobrem que os prados de ervas marinhas são o segundo ecossistema mais eficiente no armazenamento de carbono e indicam que é possível aumentar o volume dessas plantas globalmente

A solução para reduzir o volume de gases de efeito estufa na atmosfera pode estar no fundo dos oceanos. Um estudo recentemente publicado na revista científica Nature Geoscience indica uma, até então desconhecida, capacidade das ervas marinhas de capturar carbono com altíssima eficiência.

Em depoimento ao site Smithsonian Mag, Marianne Holmer, uma das autoras do artigo científico, explicou que o levantamento descobriu que os prados oceânicos de ervas marinhas são o segundo ecossistema mais eficiente no ciclo de armazenamento de carbono, atrás apenas da tundra e à frente das florestas de mangue, das restingas e das florestas tropicais, como a Amazônia.

Na tundra, a maior parte do carbono armazenado é captado pelo solo congelado, bastante eficiente na retenção da substância. O problema, explica Holmer, é que o aquecimento global está derretendo o gelo da tundra em muitas partes do mundo e, assim, liberando o carbono de volta à atmosfera. Por outro lado, os prados de ervas marinhas são menos afetados pelas mudanças climáticas e podem se espalhar globalmente com mais facilidade que as tundras.

“As plantas de ervas marinhas têm uma excelente capacidade para absorver e armazenar carbono no fundo do mar, exaurido de oxigénio, onde se decompõe muito mais lentamente do que em terra. Esse sedimento sem oxigênio retém o carbono do material vegetal morto, que pode permanecer enterrado por centenas de anos”, explica a pesquisadora.

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Nos cálculos dos pesquisadores, embora os prados de ervas marinhas não sejam tão comuns nos mares da Terra, eles são responsáveis por 10% de todo carbono sequestrado nos oceanos. Para cada um quilômetro quadrado deste ecossistema, o planeta armazena 83 mil toneladas de carbono, quase três vezes mais que as 30 mil toneladas sequestradas a cada quilômetro quadrado de florestas tropicais, por exemplo.

“As ervas marinhas só ocupam uma pequena porcentagem da área costeira global, mas essa avaliação mostra que elas são um ecossistema dinâmico para a recuperação de carbono. As ervas marinhas têm a capacidade única de armazenar carbono em suas terras, raízes e solo nos mares costeiros. Encontramos locais onde os leitos de ervas marinhas armazenam carbono há milhares de anos”, disse James Fourquerean, um dos autores do artigo, ao site Climate Action.

Onde e como as ervas marinhas podem salvar o planeta

Todos os organismos vivos, sejam eles animais, plantas, algas ou bactérias, têm carbono em sua composição e, em tese, funcionam como captadores da substância. E quanto maior a massa desses organismos, maior a capacidade de armazenar o carbono – por isso que florestas, com imensas e populosas árvores, são grandes recipiente de CO2.

Portanto, quanto mais distribuídos os prados de ervas marinhas pelo mundo, mais CO2 será captado por este ecossistema. Atualmente, o que ocorre é o contrário: a ação humana nas costas continentais está colocando em risco o ecossistema. De acordo com os pesquisadores, a perda anual destas plantas é de 1,5% – e isto equivale, proporcionalmente, a destruirmos anualmente 25% das florestas tropicais, se considerarmos o impacto ambiental decorrente.

A boa notícia, segundo o artigo, é que plantar vastas áreas de ervas marinhas é uma tarefa bastante possível. Os pesquisadores justificam que, uma vez que essas ervas não são algas, mas plantas completas (com flores, folhas e raízes), suas sementes podem ser semeadas no fundo do mar e estimuladas por mergulhadores.

A equipe de cientistas já começou a testar um projeto de plantio de ervas marinhas na zona costeira da Dinamarca e já projeta um novo teste em escala maior. Até o momento, são 60 espécies de ervas marinhas catalogadas, mas o experimento focou apenas na mais popular delas, a Zostera marina. A conclusão é de que ela pode crescer muito bem em áreas temperadas do hemisfério norte, mas tem potencial de crescimento em todo o mundo, exceto nos arredores da Antártida.

Conteúdo publicado em 5 de dezembro de 2018

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