A conta é simples. Considere um investimento que se pague em até sete anos, mas entrega retorno de pelo menos três décadas e ainda elimina um custo mensal fixo. Parece propaganda enganosa ou promessa impossível de ser cumprida, mas é a realidade: substituir o sistema de energia elétrica em rede por energia solar garante retorno econômico e compromisso com a sustentabilidade.
Carlos Viana, gerente de marketing e comunicação do Sebrae-CE, atesta a eficiência da tecnologia fotovoltaica. O prédio onde a instituição está sediada em Fortaleza, que tem mais de 20 anos de construção, precisou passar por um processo de modernização. “Viabilizamos a possibilidade de instalar um sistema de cogeração de energia”, conta Carlos.
Para cumprir o objetivo de gerar energia suficiente para abastecer 100% da iluminação do prédio foram necessários 210 painéis fotovoltaicos. A instalação completa gera 82 MWh e corresponde a cerca de 15% de todo o consumo energético da construção. “É uma decisão interessante de várias formas: gero minha própria energia e deixo de comprar da concessionária, é uma fonte limpa e sem custos de transmissão e é valioso para o marketing da própria empresa”, analisa.
Energia solar: entenda a relação custo-benefício
À época da instalação do sistema, em 2014, a equipe do Sebrae-CE projetou um cálculo para que o investimento inicial de R$ 450 mil estivesse pago em seis anos e meio. Na média, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) estima sete anos para que o investimento entregue 100% de retorno. De acordo com os dados levantados pela associação, no primeiro mês, a redução na conta de luz pode chegar a 90% e os painéis têm vida útil de 25 anos com capacidade máxima de produção. Após esse período, o potencial cai para 80% do total por mais 25 anos.
“Não é uma tecnologia cara, os valores são competitivos”, afirma Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). “De 2010 para cá, o custo da energia solar fotovoltaica se tornou 83% mais barata. Enquanto isso, a conta do fornecimento de energia elétrica subiu acima da inflação. Hoje, gerar energia renovável já é mais barato do que comprar”, complementa.
Por isso, o Sebrae-CE já recomenda a muitas das empresas para as quais presta consultoria a investir na migração para a matriz energética solar. “Hoje seria aproximadamente 30% mais barato e eficiente do que quando instalamos o sistema aqui (2014)”, informa Carlos. “Há também muito mais instituições financeiras com linhas de crédito específicas para a geração de energia, casos dos bancos federais (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) e do Banco do Nordeste”, completa.
O que é micro e minigeração distribuídas?
Data de abril de 2012 a resolução normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que permite ao consumidor brasileiro gerar sua própria energia a partir de fontes renováveis e, até, fornecer o excedente para a rede de distribuição de sua localidade. Ou seja, a usina instalada no telhado de seu prédio ou galpão pode até virar fonte de receita.
Esse sistema é definido pela Aneel como micro e minigeração distribuídas: sendo a microgeração distribuída a central geradora com potência instalada até 75 quilowatts (kW) e a minigeração distribuída aquela com potência acima de 75 kW e menor ou igual a 5 MW.
Hoje, de acordo com a Absolar, menos de 1% dos sistema de energia solar fotovoltaica opera com bateria no Brasil. “O ponto, seja ele residencial ou comercial, é conectado à rede elétrica. Quando produz mais energia do que consome, esta energia é injetada à rede e vai para a comunidade; quando a demanda é maior que a produção, usa a energia disposta nesta rede”, explica Rodrigo Sauaia, da Absolar. “Quem fornece mais do que consome ganha crédito de energia – e não pode trocar por dinheiro”, complementa.
O prazo de validade dos créditos é de 60 meses, sendo que eles podem também ser usados para abater o consumo de unidades consumidoras do mesmo titular situadas em outro local, desde que na área de atendimento de uma mesma distribuidora. “A rede funciona como uma bateria, armazenando o excedente até o momento em que a unidade consumidora necessite de energia proveniente da distribuidora”, explica a Aneel.
Panorama da energia solar no Brasil
A energia solar fotovoltaica é a sexta principal matriz elétrica brasileira, considerando apenas sua capacidade instalada centralizada, de 2.103 MW – somado a isso, são mais 1.000 MW de micro e minigeração distribuídas. A capacidade instalada corresponde a 1,2% de toda a produção brasileira. As primeiras são a energia hidrelétrica (63,7%), energia eólica (9,2%), biomassa (9%), gás natural (8,1%), petróleo (5,4%) e carvão mineral (2%).
E a curva de crescimento das fontes de energia renováveis é ascendente. Este ano, o parque eólico já se tornou a segunda principal matriz brasileira e os investimentos para campos de painéis fotovoltaicos já estão em R$ 23 bilhões, contratados em leilão até 2023. Em paralelo com o aumento do aporte financeiro para o setor está a queda no preço médio do megawatt/hora. Em 2013, o preço médio de 1 MWh era de US$ 103; hoje, o mesmo 1 MWh custa, em média, US$ 17,60.
Com os investimentos, informa a Absolar, o Brasil soma 2,4 GW de capacidade instalada no setor. É o suficiente para colocar o Brasil no Top-10 mundial, mas ainda muito distante dos países líderes. Somente em 2018, a China investiu dez vezes mais do que toda a capacidade instalada brasileira: hoje, os chineses totalizam uma potência acumulada de 176 GW; os Estados Unidos, em segundo lugar, somam 62 GW.
“Brasil precisa de uma política industrial competitiva e justa para o setor, reduzindo os preços de componentes e equipamentos produzidos no país, gerando mais empregos, tecnologia e inovação”, recomenda a Absolar, em relatório anual.
Nos estados brasileiros, Bahia, Minas Gerais e Ceará são, respectivamente, os líderes em potência instalada de gestão centralizada. Em relação à micro e minigeração distribuídas, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo estão à frente.
“No Brasil, este cenário ainda está em construção. A geração distribuída já teve um crescimento de 75% no último ano, registrando atualmente 38 mil unidades geradoras registradas. No entanto, ainda há a necessidade de avanços nas redes inteligentes [as chamadas “smart grids” e maior poder de decisão do cidadão, como a ampliação do mercado livre e a implementação da resposta da demanda”, analisa Rui Altieri, presidente do conselho de administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Conteúdo publicado em 25 de setembro de 2019