A edição de 2018 da Copa do Mundo, realizada na Rússia de 14 de junho a 15 de julho, se preocupa com seu impacto ambiental. A Fifa, que é a entidade máxima do futebol e organizadora o torneio, oficializou duas grandes medidas para tornar o Mundial um evento mais sustentável.
Pela primeira vez, a entidade exigiu que todos os 12 estádios da Copa tivessem certificação verde. A Fifa também desenvolveu um programa de compensação de carbono para minimizar os efeitos do tCO2e (gás carbônico equivalente, um dos principais gases do efeito estufa), resultantes do evento. Calcula-se que serão emitidas 2,1 milhões de toneladas desses gases – número inferior às 2,7 milhões de toneladas produzidas no Brasil, no Mundial de 2014.
Estádios têm certificação verde
A Copa do Mundo da Rússia foi a primeira das 21 edições do Mundial na qual todos os estádios receberam selo de construção sustentável. “Os estádios são fundamentais em nossos esforços para organizar uma Copa do Mundo da FIFA mais sustentável, razão pela qual [a entidade] tornou a certificação verde obrigatória para todas as arenas usadas no evento ”, disse Federico Addiechi, diretor de Sustentabilidade e Diversidade da entidade.
A medida é a mais incisiva da Fifa em relação às construções sustentáveis, mas não é a primeira nesse sentido. Na Copa do Mundo Feminina de 2011, as arenas na Alemanha tiveram estímulo do governo para implementar medidas ambientais. Houve investimento médio de 700 mil euros por arena, sendo que a economia com eficiência hídrica e energética geradas graças às inovações bateu os 300 mil euros anuais. Na Copa do Mundo de 2014, também houve incentivo para que as arenas apresentassem soluções sustentáveis. O caso mais bem sucedido foi a instalação de um painel solar com capacidade de 2,5 MW no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília.
Na Rússia, os investimentos em sustentabilidade foram direcionados para a redução da emissão de gás carbônico e eficiência no uso da água e de energia. Lá, cinco estádios já receberam a certificação Breeam (“Building Research Establishment Environmental Assessment Method”, ou Método de Avaliação Ambiental do Building Research Establishment, em tradução livre) desde janeiro. Até o fim do evento, todos estarão certificados. A avaliação leva em conta o padrão de construção ecológica, as medidas de eficiência energética, incluindo lâmpadas de iodetos metálicos, iluminação LED com detectores de movimento e sistemas de captação e reaproveitamento de água da chuva.

Segundo a Fifa, a construção dos 12 estádios e das instalações temporárias das Fan Fests – eventos pela cidade-sede que reúnem torcedores para acompanhar os jogos em um telão – produziram cerca de 92 mil toneladas de tCO2e. A preocupação da entidade, agora, é que o investimento de recursos financeiros, humanos e ambientais não seja em vão: em sua política de sustentabilidade de estádios, a Fifa exigiu a apresentação de ações para o usos futuros das instalações. O objetivo é que não virem “elefantes brancos”.
Mesmo com uma rígida política sustentável, a organização do Mundial ainda enfrenta críticas. Ambientalistas apontam que faltou cuidado na escolha dos locais para as arenas. O exemplo mais citado é o do estádio da cidade de Kaliningrado, construído sobre a região de um delta de rio e manancial para aves. “Se a Rússia tivesse cuidado com proteção do meio ambiente, a região poderia se tornar uma reserva ou um parque nacional dentro da cidade”, disse a ambientalista Alexandra Korolyova em entrevista à rede ABC.
Programa de compensação de carbono
O relatório final de sustentabilidade produzido pela Fifa para a Copa do Mundo do Brasil registra a emissão de 2,72 milhões de toneladas de tCO2e relacionadas ao evento. Já a estratégia de sustentabilidade da entidade para Copa da Rússia projeta a emissão de 2,17 milhões de toneladas de tCO2e. Deste total, 98,6% é referente a emissões indiretas, sendo que 75% disso tem como origem as viagens internacionais e deslocamentos locais de turistas dentro do país.
A federação internacional de futebol lançou uma campanha para encorajar os torcedores que já compraram seus ingressos a compensarem seu impacto de carbono: quem se cadastrar no programa apoia iniciativas de compensação reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ainda concorre a um par de ingressos para a final do Mundial. Na estimativa produzida pela Fifa, cada torcedor estrangeiro representa um impacto de 2,9 toneladas de tCO2e na pegada de carbono do evento. Os críticos, contudo, lamentam que o esquema seja limitado a apenas 100 mil tCO2e, ou seja, daria conta apenas das emissões de 34,5 mil fãs – sendo que o total de espectadores é de 3 milhões.
A entidade também prometeu compensar todas as emissões consideradas “inevitáveis” sobre as quais tem controle operacional, um montante de 243 mil tCO2e, ou 11,2% das emissões totais. Todo esse esforço da Fifa é resultado da assinatura do acordo global de mudanças climáticas, que tem como objetivo tornar a Copa do Mundo um evento carbono neutro, ou seja, com 100% das emissões neutralizadas, até 2050.
Conteúdo publicado em 25 de junho de 2018