A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica desenvolvida para mensuração dos possíveis impactos ambientais causados como resultado da fabricação, utilização e descarte de determinado produto ou serviço. O ciclo de vida se refere a todas as etapas de produção e uso do produto, desde extração das matérias-primas, passando pela produção, distribuição até o consumo e descarte final (mesmo em caso de reciclagem e/ou reúso).

Para cego ver:
Metodologia quantitativa e multicritério.
O primeiro estudo classificado como ACV foi encomendado pela Coca-Cola, nos Estados Unidos, em 1969.
Objetivo: entender os custos e os impactos dos estágios do ciclo de vida das embalagens de diferentes materiais (garrafas de plástico PET e de vidro retornável).
Método: observando o inventário de matérias-primas, o uso de combustíveis utilizados e as cargas ambientais dos processos de fabricação.
Legado: o estudo ficou conhecido como Resource and Environmental Profile Analysis (REPA) e foi amplamente divulgado.
Origem: metodologia de economic input-output life cycle assessment (EIO-LCA) é baseada em trabalho com matrizes insumo-produto de 1930.
Estudos de ACV são determinados pela série de normas ISO 14.040.
Há quatro grandes fases observadas: definição de objetivo e escopo, a análise de inventários, avaliação de impactos e interpretação
Definição dos Objetivos e Escopo
Definição das fronteiras do estudo (temporal e geográfica), a quem se destinam os resultados, os critérios de qualidade e as categorias de impacto a serem consideradas.
Análise de Inventários
Coleta dos dados que representam os fluxos de matéria e energia que entram e que saem das diversas etapas do ciclo de vida do produto. Essa etapa pode incluir trabalho de campo com coleta de dados primários ou incluir coleta de dados de literatura (dados secundários).
Avaliação dos Impactos
Softwares com alta capacidade de processamento de dados são utilizados. Eles auxiliam os especialistas para “traduzir” o modelo de ciclo de vida que foi criado para refletir o produto ou serviço que está sob análise em indicadores de impacto ambiental.
[Em destaque: Aqui, identificam-se categorias de impacto que não são comuns de serem comunicadas, como eutrofização, por exemplo.]
[Em destaque: Um dos indicadores mais conhecidos é kg de CO2 para a categoria de aquecimento global.]
Interpretação
Identificação das questões significativas do estudo, checagem da integridade, da sensibilidade e da consistência dos resultados e definição das conclusões, limitações e recomendações do estudo. A interpretação deve acontecer durante todo o estudo e não só na etapa final: essa arquitetura normalmente faz com que os estudos não sejam lineares ao longo das fases.
Categorias de impacto avaliadas (exemplos):
– Aquecimento global
– Depleção do ozônio
– Oxidação fotoquímica
– Acidificação
– Eutrofização
– Toxicidade, ecotoxicidade
– Esgotamento dos recursos naturais
– Uso do solo
As principais etapas de produção, uso e descarte avaliadas pela ACV:
1 – Extração de matéria-prima
Esta etapa da cadeia produtiva tem contato direto com o meio ambiente e a maioria de seus impactos ambientais está relacionada ao esgotamento de recursos não renováveis, emissões de gases poluentes e uso de água.
2 – Beneficiamento de matéria-prima
Os impactos dessa etapa são geralmente relacionados a processos industriais que usualmente se conectam ao alto consumo energético, água e emissões atmosféricas.
3 – Logística
O impacto ambiental de transportes terrestres tem impacto em uso de solo e em emissões atmosféricas decorrente do uso de energia/queima de combustíveis, assim como os transportes hidroviários, marítimos e aéreos.
4 – Indústria de transformação
A transformação é usualmente o momento em que o produto final é desenvolvido e no qual o design é essencial para criar produto e contexto que induzam a um ciclo de vida mais sustentável. Como o aumento de sua durabilidade e potencial de reciclagem. Nesta etapa, é exigida muita matéria-prima e energia.
5 – Consumo e uso
Os impactos positivos e negativos são contabilizados quando o produto ou serviço está sendo utilizado pelo consumidor final. No caso do plástico, por exemplo, pode reduzir o desperdício de alimentos, em forma de embalagem, ou diminuir o gasto energético de carros e aviões, sendo usado como peça industrial (mais leve que as produzidas com metais).
6 – Descarte
O descarte pode representar um impacto ambiental negativo ou positivo. Se o descarte for correto, os materiais podem ser reutilizados ou reciclados para diversas aplicações. Se o descarte for incorreto, os materiais podem contaminar o ar, o solo e os rios ou oceanos.
Países no qual a ACV é utilizada para políticas públicas:
Alemanha (reciclagem)
Chile (biocombustíveis)
Estados Unidos (biocombustíveis)
França (indústria)
México (biocombustíveis)
Peru (biocombustíveis)
No Brasil, a pesquisa acadêmica de ACV é mais comum nos seguintes setores:
Agropecuária
Automobilístico
Construção civil
Embalagens
Energia
Indústria química
Mineração
Aplicação de ACV: case de Austin (Texas, EUA)
Estudo de ACV para avaliar a proibição do uso de sacolas plásticas descartáveis → população trocou seu uso por sacolas plásticas duráveis com pegada energética maior → estas sacolas, com o tempo, se tornaram descartáveis, mas produziram mais impacto energético e hídrico com menos eficiência na reciclagem.
Aplicação de ACV: case das fraldas
Fraldas de pano duráveis: menor geração de resíduos sólidos, maior geração de efluentes
Fraldas descartáveis: menor pegada hídrica, maior geração de resíduo sólido
Conclusão: o uso mais indicado depende das condições ambientais locais e comportamento do consumidor. Comportamentos de lavagem a quente, passar com ferro ou secagem em máquinas influenciam fortemente o impacto ambiental das fraldas de pano.
Fontes:
Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV)
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
The International Journal of Life Cycle Assessment
Conteúdo publicado em 14 de junho de 2019