Ano após ano, surgem novas palavras, termos e conceitos que, de tanto que se repetem, entram na moda. Algumas dessas novas palavras e conceitos permanecem e passam a fazer parte do nosso vocabulário. Foi assim com a economia circular, que nasceu entre os ambientalistas, tomou conta das discussões sobre sustentabilidade e, hoje, faz parte do léxico da economia. Como as tendências que viram norma, a economia circular muda a maneira que grandes empresas e consumidores se relacionam com os recursos naturais e os produtos.
O conceito de economia circular surgiu em 1989 em um artigo dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. Na época, eles mostraram que a economia tradicional não levava a reciclagem em conta. Isso legava ao meio ambiente um papel secundário, de simples reservatório de resíduos, ou seja, de depósito de lixo. Em oposição à economia tradicional e linear, cujo lema era “extrair, produzir e descartar”, surgiu o conceito de economia circular, inspirado na lógica cíclica da natureza.
No meio ambiente, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para as plantas, que crescem de novo e dão frutos que, por sua vez, servem, novamente, de alimento para os animais. Também conhecido como “do berço ao berço”, o conceito da economia circular não trabalha com a ideia de resíduo. Afinal, tudo pode ser continuamente usado e reusado em um novo ciclo. Aliás, para grande parte dos defensores da economia circular, um resíduo nada mais é do que uma matéria-prima fora de lugar.
Para Guilherme Brammer, engenheiro de materiais e fundador da Boomera, a economia circular se diferencia da linear por propor que todo produto precisa ser pensando em sua totalidade. E isso inclui o reaproveitamento dos materiais que o compõem de modo que eles voltem para ciclo produtivo. Se, antes, as pessoas viviam na ignorância acerca do meio ambiente, hoje não é segredo para ninguém que vivemos o esgotamento dos recursos naturais. Assim, já não faz sentido que produtos sejam descartados como resíduo depois do uso. Brammer entende que, se a economia circular existisse há mais tempo, parte do que hoje está disponível no mercado sequer teria sido inventado. “Se algo não pode ser reaproveitado, nem deveria ser criado”, afirma.
Essa, aliás, é uma das características da economia circular: o design sem resíduos. Segundo a Ellen MacArthur Foundation, resíduos não existem quando os componentes dos produtos são projetados para permanecerem no ciclo desses mesmos materiais. Ou seja, a ideia de resíduo não faz sentido se a desmontagem e ressignificação do produto é contemplada já no momento de sua produção. Criada em 2010 pela velejadora e recordista inglesa Ellen MacArthur, a fundação é uma das entidades mais comprometidas com a promoção da economia circular pelo mundo.

Economia circular e Avaliação de Ciclo de Vida
Para Bo Weidema, professor da Aalborg University Copenhagen e membro da LCA Consultants, o conceito desenvolvido pela Fundação Ellen McArthur foca na eficiência material e deixa de lado um entendimento mais amplo do assunto, que é o de que a economia circular é “um modelo econômico para maximizar o funcionamento do ecossistema e o bem-estar humano”. Segundo ele, essa interpretação mais ampla estaria alinhada com a perspectiva geral de desenvolvimento sustentável adotada com mais frequência atualmente.
“Para nós, o modelo de economia circular é aquele que internaliza todas as externalidades dentro do processo de tomada de decisão”, explica. Ele inclui, nesse entendimento, a ideia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), uma técnica amplamente utilizada para analisar a contribuição de um projeto específico de economia circular para o desenvolvimento sustentável como um todo. De acordo com a ACV, não é a origem renovável de um produto que determina se ele é sustentável ou não, mas seu desempenho ambiental do início ao fim da vida útil. Materiais de origem fóssil que sejam leves, eficientes, duráveis, produzidos localmente e recicláveis podem ter baixíssimo impacto. É o caso dos plásticos.
De acordo com Weidema, o fechamento dos ciclos dos materiais através da reciclagem de subprodutos e resíduos é essencial para o conceito de economia circular e deve ser investigado com ajuda da metodologia da ACV. “A verdadeira responsabilidade circular acontece quando os produtores assumem o tratamento dado a seus subprodutos e resíduos e evitam receber crédito por benefícios de reciclagem não existentes”, diz.
Economia circular como forma de consumir
A economia circular não é modismo. Consumidores e empresas já perceberam que é preciso mudar a forma de se produzir bens de consumo antes que os recursos naturais se tornem escassos e os resíduos, um problema incontornável. Para Brammer, da Boomera, os clientes estão mais conscientes e exigem uma nova postura das corporações com as quais se relacionam. Os hábitos de consumo estão se transformando, e não à toa. “Esse novo comportamento tem impacto financeiro nas empresas e elas já começam a sentir o movimento e a projetar o que pode acontecer no futuro”, afirma.
Na Boomera, todo tipo de resíduo, de fraldas a cápsulas de café, é transformado em uma resina que pode ser usada na fabricação de novos produtos. E há um trabalho para garantir que esses novos produtos sejam concebidos e desenhados com o descarte e o reúso em mente. Afinal, mais do que repensar a produção, regenerar e restaurar materiais, é preciso trazer a ideia de ciclo para a criação.
Para Brammer, a economia circular não é só um modelo econômico, mas um novo modo de produzir e de pensar os negócios. Dentre seus exemplos preferidos do conceito estão os que transformam produtos em serviços. Um exemplo já bem conhecido é o AirBnB, que coloca recursos sem uso à disposição de todos. Com o serviço, um quarto vazio e uma casa de veraneio fechados e juntando poeira passam a integrar um mercado que não existia, trazendo mais eficiência à infraestrutura instalada.
O Brasil também tem soluções exemplares. Brammer lembra do serviço de água da Brastemp. Há mais de 10 anos, a empresa passou a alugar “água filtrada” para residências e escritórios pelo País. A empresa transformou um processo linear – vender mais filtros – em um processo circular – aluguel de água filtrada. Com isso, ela mudou sua linha de produtos para que eles se tornassem mais duráveis e de fácil manutenção, uma vez que a responsabilidade pelo seu bom funcionamento passou a ser dela e não mais do cliente. Para Brammer, esse é o futuro da economia circular enquanto modelo de negócio.
Conheça o posicionamento da Braskem na íntegra acessando: http://www.braskem.com/economiacircular
Conteúdo publicado em 3 de maio de 2018