Os ônibus e caminhões representam apenas 5% da frota total de 7 milhões de veículos em circulação nas vias paulistanas, mas são responsáveis por, praticamente, metade de toda poluição registrada na cidade de São Paulo. A conclusão é de estudo produzido pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo e publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
Estes veículos pesados respondem por cerca de cerca de 30% da emissão do monóxido de carbono (CO), entre 40% e 45% de emissão do benzeno e do tolueno, e 50% da produção de “black carbon” (carbono negro, em tradução livre, que significa uma forma impura do gás emitida pela combustão incompleta de combustíveis de origem fóssil).
O levantamento foi realizado na região central de São Paulo durante os três meses de primavera, época do ano tradicionalmente mais chuvosos e menos poluídos – os dados foram coletados em 2013. O trabalho utilizou a medida da quantidade de etanol na atmosfera para diferenciar a poluição emitida dos escapamentos dos veículos leves (caso dos carros e motos) da poluição produzida por veículos pesados.
“Pelos resultados obtidos, certamente uma redução de uso de veículos na cidade de São Paulo, aliada à expansão das linhas de metrô, por exemplo, é o primeiro e mais eficaz modo de minimizar a poluição na cidade. Um ótimo custo-benefício pode também ser obtido diminuindo as emissões de poluentes pelos ônibus”, explica o professor Paulo Artaxo, autor principal do artigo acadêmico.
Artaxo afirma que, na Europa, são utilizados filtros que eliminam 95% das emissões dos veículos a diesel, inclusive os ônibus. “É muito importante que estas novas tecnologias, que são baratas e podem ser adotadas a curto prazo, sejam efetivamente implementadas em São Paulo e nas grandes cidades brasileiras”, diz.
Na região metropolitana de São Paulo, há 100 veículos de passageiros para cada ônibus e 30 para cada caminhão. De acordo com o estudo, das partículas analisadas, 45% foram emitidas por veículos de passageiros que queimavam gasolina enquanto 55% dessas partículas vieram de carros que queimavam etanol.
Poluição é uma das maiores causas de morte no mundo
A poluição resultante dos impactos ambientais produzidos pela ação humana mata, anualmente, 9 milhões de pessoas no mundo, ou seja, 16% de todos os óbitos registrados todos os anos. E ainda custa caro: os efeitos colaterais da poluição resultam em perda de US$ 4,6 trilhões por ano, ou cerca de 6% da economia mundial e quase três vezes o PIB (produto interno bruto) brasileiro em 2017.
Estes números são a conclusão do trabalho realizado pela Global Alliance on Health and Pollution (GAHP; ou Aliança Global de Saúde e Poluição, em tradução livre). O estudo também resultou no mapa interativo Pollution.org, que reúne informações sobre a contaminação do ar, da água e do solo, além das mortes relacionadas à poluição.
No caso do Brasil, são registrados 489 óbitos por poluição para cada 1 milhão de habitantes, índice próximo ao dos Estados Unidos (483), México (410) e bem inferior ao de países europeus como a Alemanha (764) e Holanda (726). Brunei, no sudeste asiático, apresenta o melhor desempenho (95) e a Somália, na região nordeste do continente africano, é a nação que mais sofre com a poluição (3.261).
De acordo com o relatório anual da Organização Mundial da Saúde (OMS), 92% da população mundial vive em ambientes nos quais a qualidade do ar não cumpre as metas estabelecidas pela entidade. E isso afeta mais agressivamente os países de baixa renda: 92% das mortes ligadas à poluição estão nesses países e as doenças relacionadas comprometem ainda mais suas economias.

Esperança de um futuro mais sustentável
Se o quadro atual parece desolador, há esperança real para um futuro mais sustentável. O relatório do GAHP demonstra que investir em ações ambientalmente corretas, além dos óbvios resultados diretos para o meio-ambiente e para a saúde humana, é, também, altamente rentável.
O documento afirma que países que assumiram compromissos ambientais e tiveram progressos nesta questão registaram também crescimento de quase 250% em seu PIB. “A afirmação de que o controle da poluição sufoca o crescimento econômico e que países pobres devam passar por uma fase de poluição para atingir o desenvolvimento se provou um erro”, conclui o trabalho.
A publicação cita o exemplo dos Estados Unidos.
Lá, para cada dólar investido no combate à poluição desde 1970, há um retorno de US$ 30 (R$ 96,5) para a economia do país. Considerando que os investimentos feitos nesse sentido hoje somam US$ 65 bilhões (R$ 210 bilhões), o retorno total desses investimentos é de cerca de US$ 1,5 trilhão (R$ 4,8 trilhões).
A conta leva em consideração o valor que o governo deixou de gastar no tratamento de doenças relacionadas à poluição e ao aumento da função cognitiva das crianças e dos jovens, que impacta positivamente a produtividade e a economia nacional.
Uso de plástico em veículos diminui poluição
A introdução de materiais plásticos no lugar de componentes feitos de aço, ferro e madeira na composição dos veículos é responsável por uma significativa redução em seu peso médio. No caso de um automóvel de 1.000 quilos, 11% deste peso está associado ao plástico; o não uso do plástico aumentaria o peso para 1.165 quilos.
Essa diferença impacta diretamente na emissão de poluentes produzida pelo veículo. Um carro composto com materiais plásticos reduz a produção de CO2 em cerca de 14% em relação a um carro sem plástico. Se toda a frota de veículos brasileiros substituísse carros sem plástico por carros com plástico, a economia de carbono, ao longo de dez anos, está estimada em 126,5 milhões de toneladas de gases poluentes.
Conteúdo publicado em 9 de agosto de 2018