A ONG internacional WWF publicou o relatório Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização, que afirma a “urgência de um acordo global para conter a poluição por plásticos”.
De acordo com o documento, que usa dados do relatório What a Waste 2.0, do Banco Mundial, o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas. Deste total, informa a WWF, 91% é coletado, mas apenas 1,28% é efetivamente reinserido na cadeia circular – é um dos menores índices globais e está bem abaixo da média global, de 9%.
Dessa forma, aponta o levantamento, 7,7 milhões de toneladas do material são descartadas em aterros sanitários e outras 2,4 milhões de toneladas recebem destinação irregular, sobretudo em lixões a céu aberto.
No mundo inteiro, segundo o estudo, até 2030 mais de 104 milhões de toneladas de plástico vão poluir nossos ecossistemas. Nos oceanos, são despejados, anualmente, 10 milhões de toneladas. “Nosso método atual de produzir, usar e descartar o plástico está fundamentalmente falido”, diz Marco Lambertini, diretor-geral do WWF-Internacional.
Abiplast: reciclagem pode chegar a 25% dos plásticos
Para a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), os números apresentados pela WWF estão imprecisos. A entidade, a partir do documento Perfil da Indústria Brasileira de Transformados Plásticos, afirma que o consumo do material no Brasil em 2017 (dado mais atualizado) foi de 6,5 milhões de toneladas, sendo apenas 33% plásticos de vida curta (de até um ano). Assim, conclui a Abiplast, o volume total no país é 20% do total informado pela WWF.
A Abiplast aponta também, tendo como base estudo encomendado pela cadeia de produção à Fundação Instituto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo (USP), que em 2016 a reciclagem do produto no Brasil foi de 550 mil toneladas. Desse modo, levando em consideração os plásticos de vida curta, o índice de reciclagem é de 25,8%, justifica a entidade.

WWF: ponto crítico está na reinserção do plástico na cadeia de valor
A ONG esclarece que os dados utilizados em seu relatório e aqueles apresentados pela Abiplast têm metodologias diferentes, mas que ambos apontam que, de fato, há alto índice de coleta no Brasil, sendo considerado o “valor total de lixo plástico descartado em resíduos sólidos urbanos, resíduos industriais, resíduos de construção, lixo eletrônico e resíduos agrícolas, na fabricação de produtos durante um ano”, segundo o Banco Mundial
O problema está na sua reinserção na cadeia circular produtiva e há dois motivos principais para isso: a falta de tecnologia adequada e o baixo valor de mercado do plástico reciclado.
“Somos um país que coleta bastante plástico, mas ainda não conseguimos reinserir todo o volume de plástico na cadeia de valor (só 1,28%). Países como Chile (0,35%) e Costa Rica (1,12%), por exemplo, têm o mesmo desafio e estão abaixo do índice Reciclagem/Produção do Brasil”, afirma Gabriela Yamaguchi, diretora de comunicação e engajamento da WWF. “O que defendemos, portanto, são soluções e caminhos capazes de estimular a criação de uma cadeia circular de valor ao plástico”, completa.
A lista publicada pela WWF aponta os Estados Unidos como principal poluidor plástico do planeta. Na sequência, as posições são ocupadas por países com economia em desenvolvimento e com grande população, casos de, respectivamente, China, índia, Brasil, Indonésia e Rússia.
O espaço do plástico na indústria e sociedade
A WWF lista uma série de medidas para reverter o crescimento da poluição. Entre as medidas pleiteadas estão: metas nacionais de redução, controle e reciclagem; investimento em sistemas de gestão de resíduos; colaboração entre sociedade civil, indústrias e Estado; redução na produção e no consumo excessivo e desnecessário. A ONG apresentou a proposta para ser votada na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-4), realizada em Nairóbi, no Quênia.
A Abiplast corrobora a pauta. A entidade entende que é importante a discussão e a mobilização para solucionar a poluição plástica em nível global e destaca ações como a expansão do saneamento básico e da coleta seletiva, o consumo consciente, a promoção da reciclagem e o incentivo à inovação em produtos e tecnologias.
“A responsabilização de todos os atores, incluindo a cadeia produtiva, é necessária e muito bem-vinda. O setor não se exime do seu papel na construção de uma efetiva economia circular”, afirma a nota oficial da associação.
“O plástico não é inerentemente nocivo. É uma invenção criada pelo homem que gerou benefícios significativos para a sociedade”, reconhece a WWF, em nota. “Aproximadamente metade de todos os produtos plásticos que poluem o mundo hoje foram criados após 2000. Este problema tem apenas algumas décadas e, ainda assim, 75% de tudo que foi produzido já foi descartado”, conclui a ONG.
Ações efetivas contra a poluição plástica
A Abiplast destaca que a indústria e as empresas envolvidas na cadeia estão mobilizadas para buscar alternativas e soluções para o problema. Duas ações destacadas são as criações da Rede de Cooperação para o Plástico, que reúne todos os elos da cadeia para desenvolver uma economia circular neste processo produtivo, e do “Fórum Setorial dos Plásticos – Por um Mar Limpo”, com o objetivo de realizar debates e iniciativas para enfrentar a questão dos resíduos nos mares.
A entidade destaca também compromissos firmados por grandes marcas e fabricantes a fomentarem alternativas de reúso, remanufatura e reciclagem.
“O que queremos é que o plástico seja altamente reciclado e altamente valorizado. Não basta só ocorrer a coleta, é preciso que [o plástico] seja inserido na economia circular de maneira exemplar”, explica Gabriela Yamaguchi ao bluevision. Ela afirma que a visão da WWF é evitar todo material de uso único e de valorizar o material plástico para que sua vida útil seja prolongada na economia circular.”
Conteúdo publicado em 16 de maio de 2019