Niéde Guidon, literalmente, mudou a história da América. Na década de 1960, a arqueóloga Niéde Guidon, de 86 anos, viu fotos de pinturas rupestres registradas em paredões no sul do estado do Piauí. Ela notou que ali havia algo de especial e perseguiu sua percepção durante 50 anos. Foi assim que teve origem o Parque Nacional da Serra da Capivara, de onde vieram as primeiras evidências de que a humanidade chegou ao continente americano muito antes do que se pensava.

Nascida em Jaú, interior paulista, Niéde estudou História Natural na Universidade de São Paulo (USP), onde também trabalhou no Museu do Ipiranga. Em 1964, ela entrou na mira dos agentes da ditadura militar brasileira, que perseguiram estudantes universitários, e se mudou para a França, onde se formou doutora e também foi professora.

Mesmo na França, Niéde não esqueceu os desenhos que vira nos paredões da Caatinga brasileira. Voltou ao Brasil e mobilizou cientistas, ambientalistas e políticos para fundar Parque Nacional da Serra da Capivara, em 1979. A área hoje abrange 91,85 mil hectares entre as cidades piauienses de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato. Lá, foram catalogados nada menos que 950 sítios arqueológicos com pinturas rupestres – 204 deles abertos para visitação turística. E quem administra o local é a Fundação Museu do Homem Americano, fundado e presidido pela própria Niéde, que é responsável também pelo museu que dá nome à fundação e pelo Museu da Natureza, inaugurado em 2018.

Ao longo destas cinco décadas dedicadas a descobrir e estudar a arte e cultura de nossos antepassados, a arqueóloga e sua equipe encontraram pinturas de até 12 mil anos e evidências que remetem à existência humana na região desde 110 mil anos atrás – a tese majoritária até então era a do Povo de Clóvis, que afirmava a chegada do homem à América há cerca de 14 mil anos. 

Entenda essa história em nosso documentário exclusivo:

Conteúdo publicado em 7 de agosto de 2019