Jipe produzido com 200 quilos de plástico reciclado é movido a energia solar e transforma gelo e neve em água potável para seus tripulantes. Objetivo da missão é conscientizar sobre o desperdício

O casal de holandeses Liesbeth e Edwin ter Velde está de malas prontas para viajar até o ponto que configura o mais extremo polo Sul do planeta Terra. O roteiro prevê 30 dias de viagem e exige cruzar cerca de 2,4 mil quilômetros de terra sobre um deserto de gelo onde, embora o Sol nunca se ponha, a temperatura média é de -30°C. A aventura faz parte do projeto Clean 2 Antarctica (C2A) e tem como objetivo aumentar a conscientização em relação ao desperdício em geral, com ênfase no plástico.

Para isso, a equipe do C2A desenvolveu um veículo especial, produzido, principalmente, com plástico reciclado. O Solar Voyager é uma espécie de jipe de 16 metros de comprimento e 1.485 quilos, que se move a 8 km/h e que tem capacidade de guardar suprimentos para até 47 dias de excursão. Tudo isso movido graças a dez painéis solares que fornecem energia para o motor elétrico do veículo e para o sistema que captura gelo e neve do solo para transformá-los em água potável.

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“A Antártida contém 90% do gelo do mundo e não pertence a ninguém. É uma área de resíduo zero por lei, tornando-se o destino perfeito para uma aventura com desperdício zero. Podemos aprender com a Antártida e garantir que ela continue assim”, explicam os realizadores da expedição, que prevê, ao longo de 30 dias, produzir apenas meio quilo de resíduo – que será reaproveitado. A equipe já está na Antártida, onde pretendiam começar a jornada em 28 de novembro; o início da viagem em terra foi adiado devido às condições climáticas (a data ainda não está definida).

“Nós também queremos aumentar a conscientização para o Tratado da Antártida. Se não for estendido em 2048, o continente será aberto para exploração comercial”, reforçam os organizadores.

O que é o Tratado da Antártida

Em 1 de dezembro de 1959, 12 países (África do Sul, Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Estados Unidos, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Reino Unido e União Soviética, atual Rússia) que reivindicavam a posse de territórios continentais da Antártida assinaram o Tratado da Antártida, que pacificou as disputas pelo território e estabeleceu um acordo coletivo para um regime de cooperação internacional para exploração científica do continente. Em vigor desde 1961, o acordo, hoje, tem 50 Estados-membros, entre os quais o Brasil.

Como foi construído o veículo a base de plástico reciclado?

O projeto Solar Voyager envolveu centenas de crianças da cidade holandesa de Zwolle para arrecadar a quantidade necessária de plástico para produzir o veículo. Foram coletados 200 quilos de plástico, a maior parte dele em PET recuperado de garrafas plásticas de bebidas. Todo esse material foi derretido e transformado em pellets para abastecer 40 impressoras 3D, desenvolvidas sob medida.

As impressoras 3D, por sua vez, imprimiram milhares de peças de plástico em formato hexagonal. Juntas, essas peças de aproximadamente dez centímetros formam a estrutura do Solar Voyager. “O plástico não irá corroer no extremo frio. Por isso que produzimos peças dessa forma e não usamos materiais convencionais, como parafusos”, explicam os desenvolvedores.

Peças do Solar Voyage. Crédito: Divulgação/Clean2Antarctica

“As ruas estão cobertas de ouro, você precisa estar disposto a vê-lo. Todos os materiais valiosos usados na construção do Solar Voyager foram encontrados pelas crianças em espaços urbanos, como ruas ou lixeiras”, afirma a C2A.

A organização afirma ainda que a iniciativa quer colaborar para mudar o comportamento global em relação ao consumo e ao desperdício de materiais.

Conteúdo publicado em 30 de novembro de 2018

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