Em um futuro não muito distante, as estradas e vias urbanas da sua cidade podem ser pavimentadas por um novo tipo de asfalto que tem o plástico retirado de oceanos e de aterros sanitários como principal insumo. Esta é a proposta da empresa britânica MacRebur, que foi premiada pelo bilionário Richard Branson no concurso de startups VOOM.
A história da MacRebur começou quando seu fundador, Toby McCartney, visitou a Índia, país onde o excesso de lixo plástico é um problema de grandes proporções, mas também onde é frequente o investimento em soluções que usam plástico reciclado como insumo. Um projeto, em especial, chamou sua atenção: o que transforma o plástico em asfalto.
De volta à Inglaterra e impressionado com o que viu, McCartney trabalhou para desenvolver uma solução semelhante. Ele começou com uma fórmula que aproveitasse as melhores características do plástico para fazer do material a base de um novo tipo de asfalto. Após testar 600 diferentes receitas, ele chegou à solução ideal. Nela, os resíduos plásticos são transformados em pequenos grânulos e substituem 20% do betume denso, produzido à base de petróleo, que, tradicionalmente, sela as vias.
“Todos os nossos plásticos são aquecidos a cerca de 180 graus”, disse o fundador da MacRebur em entrevista à rede norte-americana CNN. “Eles, então, se homogeneizam por completo e são misturados ao betume. Não há, portanto, micro-plástico em nenhuma de nossas estradas”, afirmou. A matéria-prima será adquirida de organizações que trabalham com a limpeza de aterros e oceanos.
“Queremos resolver dois problemas mundiais. De um lado, o lixo plástico e, do outro, a má qualidade das estradas”, afirma o engenheiro. Ele diz que as estradas pavimentadas com seu material são 60% mais resistentes que as vias atuais e que, além de ecologicamente corretas, serão mais baratas. Segundo a CNN, testes de laboratório atestam que a durabilidade do “asfalto plástico” é, de fato, até três vezes maior.
“No final das contas, o plástico é um ótimo produto”, disse McCartney. “Ele dura muito tempo, o que é um problema se for um produto residual, mas uma vantagem se queremos que ele, realmente, dure [como é o caso do asfalto]”, concluiu.
Cada tonelada do novo produto contém o equivalente a cerca de 20 mil garrafas plásticas ou até 70 mil sacolas plásticas. Até o momento, a MacRebur vende para cidades do Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
Exemplo da Índia tem quase duas décadas
Em 2001, o químico e professor universitário Rajagopalan Vasudevan entendeu que era preciso encontrar uma solução para os resíduos plásticos em seu país – à época, havia sugestões até para banir o uso do material. “Proibir o plástico pode afetar gravemente a qualidade de vida de uma família de baixa renda. Mas, se você queimá-lo ou enterrá-lo, isso afetará o meio ambiente”, ponderou em entrevista ao jornal britânico The Guardian.
Misturar plástico reciclado com asfalto foi a ideia que pareceu mais promissora a Vasudevan. A ideia rapidamente ganhou apoio na Thiagarajar College que, já em 2002, pavimentou um trecho de 50 metros dentro do campus – que está intacto até hoje.
Atualmente, a Índia tem quase 10 mil quilômetros de vias pavimentadas com a solução desenvolvida por Vasudevan. Cada quilômetro representa uma economia de uma tonelada de betume, substituída por uma tonelada de plástico reciclado. O maior desafio, informa o The Guardian, é encontrar locais para a compra de tanto material reciclado.
“O plástico não é o problema”, diz o cientista indiano. “O plástico não iria entupir nossos oceanos ou nossos aterros se nós não o jogássemos lá em primeiro lugar – e há muito o que podemos fazer com ele”, afirmou.
Mais cidades planejam usar asfalto plástico
Em 2012, Vancouver, no Canadá, anunciou sua intenção de pavimentar a cidade com asfalto produzido com plástico reciclado. “Usamos cerca de 20% a menos de combustível na usina de asfalto – é, portanto, uma enorme economia [na geração de] gases de efeito estufa”, disse Peter Judd, engenheiro da prefeitura local, em entrevista à rede canadense CBC. Em 2017, Vancouver realizou o primeiro teste com o material produzido pela MacRebur.
Na Holanda, a cidade de Roterdã também revelou planos de trocar o asfalto convencional por pavimentação à base de plástico reciclado. Em 2015, o conselho do município concordou em utilizar a tecnologia desenvolvida pela empresa VolkerWessels, que cria blocos pré-fabricados de pista a partir de plástico retirado dos oceanos.
De acordo com a VolkerWessels, a vida útil de cada bloco pode chegar a 50 anos e suportar variações de temperatura ambiente entre -40°C e 80°C. “O plástico apresenta vários tipos de vantagens”, disse. “Seja na hora de instalar ou na hora de fazer a manutenção”, afirmou Rolf Mars, diretor da empresa, ao jornal britânico The Guardian.
Conteúdo publicado em 8 de agosto de 2018