Entre as matrizes energéticas mais difundidas mundo afora, a energia eólica é uma das mais limpas e de menor impacto ambiental. Ainda assim, ela produz alguns efeitos colaterais, sendo um deles, a morte de aves. Mas uma nova ideia pode mudar esta realidade.
De acordo com levantamento da NBC News, há mais de 50 mil turbinas de vento instaladas apenas nos Estados Unidos. Esse parque eólico é capaz de atender 8% de toda demanda energética do país. E este índice está crescendo: as estimativas indicam que, até 2030, a energia gerada pelos ventos atenderá 20% de todo demanda norte-americana. No Brasil, há 518 usinas instaladas com capacidade produtiva capaz de atender as demandas de 22 milhões de residências. Com seus 13 gigawatts instalados, o setor ocupa a oitava posição em ranking mundial de energia eólica, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
As usinas de energia eólica geram energia por meio dos chamados aerogeradores – estruturas de mais de 100 metros de altura com enormes hélices que, com a força do vento, giram geradores que, por sua vez, geram energia elétrica. Contudo, com pás que chegam a ter 80 metros de comprimento, esses aerogeradores podem causar danos à vida selvagem e provocar a morte de milhares de pássaros.
Um artigo científico publicado na Biological Conservation estima que entre 140 mil e 328 mil aves morrem todos os anos nos Estados Unidos por colisões com as hélices e as torres de sustentação dos aerogeradores. Os acidentes ocorrem com mais frequência à noite, quando os animais têm pouca visibilidade.
Como salvar os pássaros? Radar e mapa são a solução
Um grupo de pesquisadores da Universidade Cornell, no estado norte-americano de Nova York, apresentou uma solução para o fim da morte sistemática das aves. Eles desenvolveram um sistema chamado BirdCast.info que integra radares a um mapa interativo para mapear o trânsito de aves pelo país.
A ideia nasceu a partir do sistema de radares Doppler, tradicionalmente usado para detectar alterações meteorológicas. Os radares Doppler sempre registraram os movimentos de migração de aves, mas esta informação era filtrada pelo serviço meteorológico como ruído. A nova plataforma os dados que, antes, eram descartados.
Nela, os sinais de migração de bandos de aves registrados em 143 sistemas já instalados de radares distribuídos pelo território norte-americano são enviados em tempo real para os mapas do BirdCast.info. Assim, os operadores das usinas de energia eólica podem acompanhar essa informação e parar ou alterar a atividade das turbinas enquanto houver forte movimento de animais.
A sugestão proposta pela equipe de trabalho da Universidade Cornell é de que os parques eólicos elevem a velocidade mínima para ativação de seus aerogeradores. Com isso, os aparelhos ficariam parados quando há pouco vento – momento em que os bandos de pássaros em migração mais voam e quando acontecem mais colisões com os aerogeradores. Nesse sentido, os aerogeradores só funcionariam quando os ventos estivessem mais fortes, ou seja, quando as condições não são boas para os voos dos pássaros em migração, reduzindo, assim, as mortes de aves com impacto mínimo na produção energética.
De acordo com o professor Kyle Horton, a medição de uma única noite entre abril e maio registrou mais de 520 milhões de aves migratórias, apenas nos Estados Unidos. “Se percebemos grandes movimentações em noites específicas, podemos alterar as estratégias por cinco noites, por exemplo, ou outros períodos pré-estabelecido – e isso pode ter um grande impacto”, disse Horton para a NBC. “Nós realmente queremos algum resultado a partir disso, e esperamos que seja a redução de mortalidade [de aves]”, concluiu.
Conteúdo publicado em 14 de maio de 2018