Chicletes que antes iam parar na calçada são recolhidos, reciclados e transformados em diferentes produtos - entre eles, lixeiras cor-de-rosa para recolhimento de chicletes

O fundador da Apple Steve Jobs dizia que design não é forma, é função. E as lixeiras desenvolvidas pela estudante de design e hoje empreendedora inglesa Anna Bullus se encaixam nessa lógica. Elas existem para recolher chicletes que são reciclados para dar origem a novas lixeiras – para descarte de chicletes – e outros produtos criados a partir da mesma matéria-prima. Apropriadamente, a empresa de Anna se chama “Gumdrop”, ou gota de chiclete.

A Gumdrop faz tigelas para cães, pentes, conjuntos de talheres e até botas de borracha – tudo com chiclete reciclado. Mas o produto mais famoso ainda é a lixeira rosa, feita em parte de goma reciclada, onde as pessoas podem depositar seus chicletes mastigados. No Reino Unido, o governo gasta cerca de 50 milhões de libras – mais de R$ 230 milhões – todos os anos limpando as ruas, sendo que o chiclete é o resíduo mais encontrado. Mais até que bitucas de cigarro.

Reciclando chiclete

A propriedade elástica do chiclete é resultado de uma mistura de resinas, polímeros e plastificantes com a goma-base. De acordo com a revista Chemical & Engineering News, a US Food & Drug Administration (ou FDA, entidade que administra questões ligadas aos alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) classifica mais de 40 produtos químicos como “goma-base”, incluindo tanto resinas naturais quanto polímeros sintéticos, como polisobutileno. E esses materiais são, em grande medida, recicláveis.

A Gumdrop não divulga seu método para reciclagem de chicletes, mas, segundo um porta-voz, tanto o chiclete quanto a lixeira são reciclados juntos. Quando a lixeira para chicletes está cheia, ela ruma para um local de triagem, que remove embalagens, pontas de cigarro e outros materiais frequentemente descartados juntos com o chiclete. Só depois da triagem é que a goma é submetida aos processos de reciclagem que a transformam em um aglomerado de polímeros pronto para ser moldado como um plástico. Os produtos resultantes são 100% reciclados e contêm pelo menos 20% de goma reciclada na composição.

Economia de R$ 25 mil

A Universidade de Winchester foi um dos primeiros lugares a se inscrever para usar as lixeiras da Gumdrop. Cerca de 8 mil pessoas vivem e trabalham no campus onde foram instaladas 11 dessas lixeiras. Para reforçar o recado de que o chiclete pode ser reciclado se descartado adequadamente, a Gumdrop distribuiu centenas de xícaras de café feitas com o material para alunos do primeiro ano. Dezoito meses depois, a universidade notou queda na quantidade de chiclete e está expandindo o esquema.

A Gumdrop distribui suas lixeiras apenas no Reino Unido, mas elas já fazem sucesso considerável. Segundo a BBC, o Aeroporto de Heathrow economizou 6 mil libras – cerca de R$ 28 mil – em limpeza durante um teste de oito semanas. Já a Great Western Railway, que opera trens, instalou as lixeiras em mais de 25 estações e já pensa em expandir o esquema de coleta.

Anna acredita que suas lixeiras podem inspirar os mastigadores a pararem de jogar lixo junto com o chiclete. “Eu acredito que através do design certo podemos realmente mudar a forma como as pessoas se comportam”, disse à BBC.

Conteúdo publicado em 6 de abril de 2018

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