Seis alunos de Ensino Fundamental na Grande São Paulo, de 12 anos e 13 anos, são responsáveis por desenvolver um material que será levado e testado no espaço e que pode ser peça chave para a construção de colônias humanas fora do planeta Terra. O experimento chamado de “cimento espacial” foi aprovado pela Nasa e irá voar em um foguete da SpaceX para passar um mês na Estação Espacial Internacional (EEI) em junho de 2019.
É a primeira vez que a competição estudantil “Programa de Experimentos Espaciais para Estudantes”, produzida pela Nasa há 12 anos, recebe um trabalho de um país de fora da América do Norte. Trata-se de uma parceria com a iniciativa Missão Garetéa que permitiu a inscrição de mais de 10 mil projetos. A agência espacial norte-americana escolheu o cimento espacial entre 72 finalistas.
Os jovens brasileiros, estudantes do Colégio Dante Alighieri e da Escola Municipal Perimetral, ambos de São Paulo, e do Projeto Âncora, de Cotia, foram até Washington, capital dos Estados Unidos, apresentar a ideia e representar o Brasil no “Centro Nacional para Educação Científica para Terra e Espaço”. É o primeiro projeto brasileiro que vai ao espaço desde a Missão Centenário, que levou o astronauta Marcos Pontes à órbita terrestre, em 2006.
“Estamos em um momento crucial da ciência no Brasil, e despertar o interesse das crianças pela ciência é um processo importantíssimo para garantirmos a continuidade de todo um trabalho exercido no país”, diz Lucas Fonseca, engenheiro espacial e coordenador da Missão Garatéa, em entrevista à Globo.
Em julho, o Missão Garetéa irá abrir um edital nacional para a próxima edição do concurso.
Plástico verde é elemento fundamental do cimento espacial
O material que será enviado ao espaço é composto de cimento, areia e plástico verde. E, de acordo com seus próprios desenvolvedores, o plástico produzido a partir do etanol extraído da cana-de-açúcar é a grande sacada do projeto. Isso porque o plástico pode ter efeito protetor contra a radiação solar e, assim, reduzir significativamente a exposição dos astronautas a essa radiação – uma potencial causa de câncer.
“A ideia surgiu das dúvidas sobre o por quê de existirem tão poucas construções no espaço. Então, pensamos em levar o cimento para o espaço, já que ele é bem frequente nas construções aqui na Terra”, disse a aluna Sofia Palma à TV Globo. Ela cita, também, que o grupo soube que, no mesmo projeto, será enviada uma recicladora de plástico verde ao espaço e isso os motivou a incluir a substância na mistura do cimento.
O experimento tem como motivação descobrir como a microgravidade afeta o processo de endurecimento do cimento mesclado com plástico e água. Durante 30 dias, dois tubos idênticos, com duas partes, uma com água e outra com a mistura, serão avaliados: um ficará no laboratório na Terra e outro ficará a cargo de um astronauta na EEI. Os estudantes brasileiros defendem a hipótese de que o cimento com o plástico verde irá se comportar de forma semelhante no espaço e na Terra.
O estudo abarca temas como microgravidade, estrutura do plástico e do cimento, composição para a formação do cimento, impressão 3D e radioatividade. Caso se confirme o bom resultado da exposição do material a estas condições, ele poderá ser a principal alternativa para a construção de colônias humanas em lugares como Lua e Marte.
Conteúdo publicado em 25 de julho de 2018