Atualmente, a melhor destinação para a maioria dos resíduos plásticos é a reciclagem, que exige um processo complexo de transformação do material para reintroduzi-lo à cadeia produtiva. Em um futuro não tão distante, esse processo pode acontecer dentro de nossas próprias casas e converter o plástico em uma substância bastante útil: biogás.
Um trabalho desenvolvido pelas universidades irlandesas University College Dublin e Trinity College Dublin e publicado na revista Environmental Science & Technology, da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês), chegou a uma tecnologia que funciona como uma composteira doméstica capaz de decompor determinados tipos de plástico e, desta reação química, produzir biogás.
Os pesquisadores selecionaram 15 tipos de plásticos ou de misturas plásticas e estudaram seu comportamento em condições específicas, que poderiam ser gerenciadas (como compostagem e digestão anaeróbica) ou não gerenciadas (como solo e água doce ou salgada).
Eles demonstraram, então, que muitos destes plásticos e misturas se decompõem sob condições de digestão anaeróbica, inclusive se degradados em um modelo de compostagem industrial. O artigo ressalta o caso do ácido polilático (PLA), que exige altíssimas temperaturas para se degradar, mas que ao ser exposto a uma combinação de dióxido de carbono, biomassa e água se tornou apto para a compostagem doméstica.
Plásticos biodegradáveis: solução, mas com cautela
O objetivo do trabalho era observar o comportamento dos plásticos biodegradáveis submetidos a misturas com materiais mais resistentes. Atualmente, a maioria dos polímeros biodegradáveis não têm flexibilidade, força ou resistência equivalente às dos plásticos convencionais, mas melhoram seu desempenho quando combinados entre si ou com os formatos sintéticos.
O problema, afirmam os autores, é que o comportamento dos bioplásticos combinados, do ponto de vista ambiental, é incerto. No artigo, os pesquisadores advertem ainda que de todos os tipos de plásticos ou misturas plásticas testados, apenas dois deles, o poli-hidroxibutirato (PHB) e o amido termoplástico (TPS), se romperam completamente sob todas as condições de solo e de água.
A conclusão é que de o plástico biodegradável merece atenção, mas que não pode ser considerado uma “panaceia” para o problema do descarte incorreto do plástico em escala global. “Assim, as misturas plásticas biodegradáveis precisam de uma cuidadosa gestão pós-consumo e é necessário um projeto adicional para tornar a biodegradação mais rápida em múltiplos ambientes [o teste demonstra que é até seis vezes mais lenta que os tempos de retenção em plantas comerciais], já que sua liberação no ambiente pode causar poluição plástica”, recomendam os autores.
“Se a sociedade pretende substituir o plástico não-degradável pelo biodegradável, precisamos garantir que entendemos a biodegradabilidade destes materiais e, em especial, das suas composições, já que estas tendem a ser mais comercializadas. Este conhecimento pode informar as áreas de aplicação desses materiais para que eles tenham um impacto positivo nas opções de gerenciamento do descarte”, conclui o estudo.
Conteúdo publicado em 29 de outubro de 2018