Em 2014, o Chefe Naldo, da comunidade indígena Tembé, na Amazônia Central, convidou Topher White e sua fundação Rainforest Connection para ajudá-lo no combate ao desmatamento ilegal que acontece há 80 anos na região. Juntos, eles criaram um sistema capaz de enviar alertas por meio de celulares recondicionados depois do descarte e instalados no topo das árvores para detectar, em tempo real, a exploração madeireira.
Segundo White, os número mostram que a destruição de florestas responde por quase 20% de todas as emissões anuais de gás do efeito estufa. Na floresta tropical, o desmatamento acelerou com a exploração madeireira excessiva — 90% é ilegal, ou seja, feita sem fiscalização e por baixo dos panos.
No blog do Google Brasil, Topher explica: “escondemos smartphones modificados alimentados com painéis solares — chamados de dispositivos ‘Guardiões’ — em árvores de áreas ameaçadas e monitoramos continuamente os sons da floresta, enviando todo o áudio para os nossos servidores baseados na nuvem pela rede telefônica local. Uma vez que o áudio está na nuvem, usamos o TensorFlow, plataforma de machine learning (aprendizado de máquina) do Google, para analisar todos os dados auditivos em tempo real e ouvir motosserras, registrar caminhões e outros sons de atividades ilegais que possam nos ajudar a identificar problemas na floresta. O áudio chega constantemente de todos os telefones, 24 horas por dia, todos os dias, apesar de o risco de perdermos algumas dessas detecções ser altos”.
O TensorFlow é uma biblioteca de código aberto desenvolvida por estudiosos e engenheiros que trabalhavam com pesquisa no time do Google Brain. O objetivo era fazer testes com machine learning, mas a tecnologia acabou se provando útil para aplicações bem variadas.
Segundo Topher, a capacidade analítica do TensorFlow é imprescindível para o sucesso do projeto. “A versatilidade da estrutura de aprendizado de máquina nos permite usar uma ampla gama de técnicas de inteligência artificial com deep learning (aprendizado de máquina profundo, em português) em uma plataforma unificada. Conseguimos ajustar nossas entradas de áudio e melhorar a qualidade da detecção. Sem a ajuda do aprendizado de máquina, esse processo seria impossível”, escreveu.
Em Los Angeles, a ONG Rainforest Connection está lançando o projeto “Guardiões do Planeta”, com centenas de estudantes de programas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Esses jovens vão conversar com os moradores da comunidade Tembé pelo Google Hangouts — aplicativo de conversas por texto, ligação ou vídeo do Google — e desenvolver seus próprios dispositivos para serem enviados para a Amazônia. A expectativa é que esses “Guardiões” protejam quase 400 mil km² até o ano 2020.
Conteúdo publicado em 26 de março de 2018