Duas universidades federais brasileiras vêm trabalhando no desenvolvimento de tecnologias que podem mudar a forma como usamos o plástico para a embalagem de alimentos. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal do Rio de Janeiro criaram modelos ainda embrionários de plásticos que mudam de cor em contato com material orgânico – e, inclusive, podem informar quando o produto estiver próximo de perder a validade ou quando já estiver proibido para consumo humano.
Conheça essas tecnologias brasileiras.
O plástico interativo produzido com mirtilo
O projeto desenvolvido pela engenheira química Cláudia Luchese começou com o objetivo de produzir embalagens de alimentos ambientalmente corretas e que usassem matéria-prima orgânica e barata – sendo, portanto, biodegradáveis. E ela encontrou a solução ao processar o amido da mandioca e do milho e ao aproveitar os resíduos do processamento do suco de mirtilo.
No processo de fabricação do material interativo, o amido encontrado no milho e na mandioca se tornou a base da formação dos filmes plásticos – muitos bioplásticos já usam a substância como principal insumo. A grande ideia, no entanto, surgiu com a introdução do mirtilo: a fruta é rica em antocianinas, classe de compostos bioquímicos que podem mudar de cor quando submetidos a diferentes valores de pH.
“Essa capacidade poderia conferir uma informação para o consumidor para que ele se dê conta de que aquele alimento não está mais propício a ser consumido, ou de que ainda está”, explicou Cláudia em entrevista ao portal G1. “Então, como o alimento muda de pH conforme vai se deteriorando, principalmente produtos cárneos, o filme vai ficando com uma coloração azulada ou amarelada”.
Na terceira fase do projeto, realizada na Universidade do País Basco (Espanha), foi identificada um terceiro aspecto da tecnologia: a embalagem é capaz de prolongar o tempo de vida do alimento. A última etapa, agora, está sendo a avaliação da viabilidade econômica do material.
Plasticor, o plástico tecnológico que muda de cor
No campus Xerém da UFRJ, em Duque de Caxias, nasceu, cresceu e foi premiado o projeto Plasticor. Durante um hackathon, evento de empreendedorismo realizado por alunos e pelo Sebrae, um grupo de estudantes criou o bioplástico também capaz de mudar de cor ao ter contato com alimentos e, assim, informar se o produto está próprio para o consumo.
“Nossa embalagem é ecologicamente correta, já que não utiliza aditivos químicos nem demora anos para degradar”, explica João Vítor Balbino, um dos sete estudantes envolvidos na startup que desenvolve o trabalho. Os alunos estimam que o Plasticor conclua seu processo de degradação em seis meses – muito menos que os plásticos convencionais, que levam até cinco séculos.
A proposta é que o novo plástico possa ser utilizado de duas formas: ou embalando produtos para venda final ou em fitas para que o cliente possa conferir a validade do alimento. E, de acordo com o jornal Extra, o Sindicato de Alimentos da Baixada Fluminense (Simapan) já anunciou apoio à tecnologia, com a expectativa de reduzir em até 80% o desperdício de alimentos.
“Os empresários procuraram o sindicato porque os produtos estavam se deteriorando nas prateleiras”, disse Henrique Seita, presidente da Simapan, ao Extra. “Essa indicação por meio da cor, inclusive, vai evitar que se perca produtos por causa da validade. O empresário vai conseguir observar o real estado do produto com mais facilidade”, afirmou.
Conteúdo publicado em 31 de julho de 2019