Diretora regional da União pela Conservação da Natureza, a costa-riquenha sabe da importância de ser mulher na atualidade e quer ajudar a América Latina a crescer

Hoje é menos difícil ser mulher na Costa Rica porque, no passado, várias mulheres lutaram duramente pelo direito ao voto para hoje sermos parte da política nacional e termos uma sociedade menos machista. Eu não vou dizer que tudo está feito, porque não está. Ainda nos falta avançar muito. Mas creio que o papel de mulheres como eu, que tenho 50 anos, é de apoiar mulheres que vêm depois, de abrir caminho, de dar a mão, de fazê-las se sentirem importantes, que tudo que estudaram e que sabem tem valor. É claro que não é em todas as comunidades indígenas que isso acontece, mas eu já vi várias que funcionam num sistema de matriarcado, em que a mulher é quem tem o poder de decisão. Em comunidades indígenas ou não, eu acredito que homens e mulheres podem conviver em paz se respeitarmos uns aos outros e tivermos os mesmos direitos. Isso é o que importa. Não é uma luta contra os homens, é uma luta para que as mulheres sejam respeitadas em igualdade de condições. E, mais do que nunca, nós mulheres temos que ser solidárias umas com as outras.

Aos 50 anos, idade com a qual se sente muito confortável, Grethel Aguilar é diretora regional do IUCN, sigla em inglês para Union for the Conservation of Nature (União pela Conservação da Natureza, em tradução livre). Formada em Direito, ela aplica seus conhecimentos em favor da conservação dos recursos naturais e do bem-estar das pessoas. Durante anos, foi a campo para trabalhar com comunidades indígenas da América Latina. “Foi por meio deles, vi o tema da conservação dos recursos de uma outra forma, porque é importante cuidarmos do que temos, da água e do ar, mas é igualmente importante atuar pelos direitos indígenas. Tenho dedicado a minha vida a isso e me sinto muito feliz quando me levanto da cama todos os dias e vejo que estou contribuindo para algo bem grande”, conta.

Para Grethel, não aprendemos tudo que podíamos ter aprendido com os índios. “São povos vulneráveis, que têm muitas necessidades e pouca ajuda. Se você tem paixão pelo assunto, respeito e convicção de que pode apoiá-los, o trabalho passa a ser muito satisfatório. É bom saber que se está contribuindo para manter a qualidade de vida dessas culturas. Eu sigo aprendendo com eles, nunca paro, mas talvez o mais importante que eles me ensinaram foi o respeito pela mãe terra, como eles a chamam. É um respeito por uma terra que nos dá de comer, que nos dá água, ar e que nos serve para toda a vida. Entendi, com eles, a ideia de que o ser humano é parte de um só ecossistema, que não somos algo diferente, mas sim mais uma das espécies que habitam o planeta.”

Mãe de três filhos homens, Grethel levou para a casa seu cuidado com o meio ambiente e com o outro, além de uma atitude de menos consumismo, que ela acredita ser uma forma de contribuir com o ecossistema. “Desde que [meus filhos] nasceram, tenho sido comprometida com meus ideais, sobretudo o de bem-estar social e ambiental. Acredito que isso se ensina às crianças desde pequenas. Na minha casa se recicla e eu fico brava se não apagam a luz ou se demoram muito no chuveiro. Hoje, meus filhos veem isso como algo natural, algo que é parte de nossas vidas, tanto o uso racional dos recursos, como de ter sensibilidade social, o respeito por diferentes culturas e pelas diferenças de opinião. Só assim poderemos criar um mundo mais amplo, para além de nossa própria família, da nossa própria cultura, de nosso próprio país. Sempre respeitando e querendo aprender de todo mundo”.

Grethel também se sente uma mulher privilegiada, que pôde estudar, morar fora e visitar o mundo, mas que decidiu voltar à Costa Rica. “Minhas raízes são muito importantes para mim, porque eu acredito que posso contribuir melhor na região de onde sou, que é a América Latina. Meu coração está na América Latina, me sinto cômoda na América Latina. Sou uma mulher privilegiada porque tive a oportunidade, com o esforço da minha família, de estudar e sair ao mundo. Para mim isso tem que se reverter para a minha comunidade, para o meu país e para a minha região.”

Conteúdo publicado em 31 de março de 2018

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