
Durante a semana do 8º Fórum Mundial da Água, bluevision vai publicar breves perfis das pessoas que fazem esse evento. Para além dos seus cargos, suas atitudes
O que meu deu o clique na questão da mudança do clima foi que percebi, enquanto economista formada pela UnB (Universidade de Brasília), que estávamos trabalhando em cima de um modelo que era todo direitinho, mas que existiam externalidades faltando. E, ao adicionarmos elas, a conta fica diferente, a relação geopolítica fica diferente, o mundo como a gente conhece fica diferente. Eu percebi que existia uma falha e isso me fez querer trabalhar em sustentabilidade. A economia como a gente conhece é uma visão de muito curto prazo, não há um planejamento mais estendido. Não é à toa que na economia tradicional não se considera questões ambientais e sociais. São questões que você só percebe no longo prazo: os gases do efeito estufa se formam em centenas de anos, a poluição dos oceanos também. Ou seja, não é no mandato de um prefeito, nem no mandato de um CEO que se resolve. Temos que pensar no longo prazo e aí sim vai funcionar, porque você estará pensando no bem-estar das pessoas, e o bem-estar das pessoas é bom para as empresas, é bom para o negócio. Você não precisa mais ser filantropo para pensar no planeta e na sociedade. A sustentabilidade quebra paradigmas. É esse novo olhar que me fez ver, com uma outra lente, um outro óculos, as mesmas coisas, mas de uma forma totalmente diferente, que vê esse entrelaçamento e que isso pede uma nova abordagem.
Marina Freitas Gonçalves de Araújo Grossi, ou apenas Marina Grossi, nasceu em Goiânia, foi criada em Brasília, e mora no Rio de Janeiro há um bom tempo. Carrega um pouco do cerrado e da Mata Atlântica nas suas andanças como presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) desde 2010. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003. Também participou das negociações do Protocolo de Kyoto.
Com passagem pelo setor público e agora no setor privado, Marina acredita que as empresas devem ser protagonistas de mudanças fundamentais na sociedade, pois elas possuem a flexibilidade, a disciplina e os recursos necessários para agilizar as transformações. Aos governos, cabe trabalhar em regulamentações adequadas e em formas de dar escalabilidade às boas práticas já estabelecidas.
Fotógrafa nas horas vagas, Marina acredita que sua vantagem, assim como a do filho músico, Gabriel, é ter um olhar que enquadra bem aquilo que vê, para além da técnica. No pequeno sítio que mantém em Xerém (RJ), uma região sem saneamento básico e com pouco mão-de-obra especializada — sem experiência para instalar painéis solares, por exemplo –, Marina tenta colocar em prática tudo aquilo em que acredita. Sempre respeitando a cultural local, mas aproveitando ao máximo o tempo que passa próxima da natureza. E nessa relação com o meio ambiente ela também coloca um olhar muito particular.
Para Marina, é nessa conexão com a natureza que conseguimos relaxar e aprender: “você vê a folhinha caindo… ela tem um tempo que não adianta apressar”. Também é na proximidade com a natureza que percebemos como nos conectamos a ela, o quanto dependemos dela, inclusive de recursos como a água. Para Marina, a grande mudança de atitude é se ver como aliado da natureza, e não como adversário: “perceber como ela existe, como ela funciona, e se colocar no curso dela. Se você se coloca a favor da natureza, ela percebe que não há adversários, e dá frutos”.
Conteúdo publicado em 19 de março de 2018