Produtora de cinema, Suzana Amado doa parte do seu amor pela dramaturgia para as questões que acredita dando visibilidade aos filmes ambientais

Meu pai me ensinou e eu ensinei para o meu filho. E não só para ele: para todos no meu entorno e todas as pessoas que me cercam: tem que votar bem, saber votar. Felizmente, na democracia, o melhor instrumento é o voto. Logo, eu gostaria que as pessoas soubessem votar, escolhessem com certeza, escolhessem pensando no depois, escolhessem vendo o passado de quem elas escolheram para receber seu voto. As pessoas têm uma história, que não se apaga, e todas as pessoas que estão aí só continuarão aí se nós votarmos nelas. Cabe a nós não votarmos nas mesmas pessoas. Eu não tenho nada contra pensamentos divergentes do meu, muito pelo contrário, democracia é isso. Entretanto, acredito que pessoas precisam ter consciência do que elas estão fazendo. Votar e escolher bem, não tem melhor legado do que esse. Eu cresci na ditadura, sei quanto é difícil não poder escolher e hoje todo mundo pode escolher, tirar um título de eleitor e ir lá votar. É assim que mudamos as coisas. Participando de manifestações, deixando claro desejos, enchendo a paciência de quem nos representa. É preciso escolher direito.

Diretora e curadora do Filmambiente Festival e responsável pela edição especial do Green Film Festival no 8º Fórum Mundial da Água — rede da qual faz parte –, Suzana Amado tem paixão pelo cinema. Porém, sua paixão pelo cinema nacional só começou depois que ela descobriu que, de fato, existia um cinema brasileiro. Segundo ela, foi o filme “Viúva Virgem” (1972), de Pedro Carlos Rovai — responsável pela produção da série de filmes “Tainá” — quem lhe abriu os olhos para o que era feito no seu País. Carioca de 65 anos, Suzana iniciou sua carreira na TV Educativa, foi superintendente adjunta de comercialização da Embrafilme, gerente de marketing da Columbia Pictures, Art Films e na Editora Campus/Elsevier, em uma passagem pelo mercado editorial. Lançou muitos filmes brasileiros, inclusive quase todas da série Os Trapalhões nos anos 1980 e 1990.

Não por acaso, foi o amor quem a levou para o cinema ambiental. “Eu tinha um namorado polonês que morava nos Estados Unidos e fazia filmes ambientais. Eu ia vê-lo, e ele vinha me ver. Certa vez eu estava falando com uma amiga minha que, naquela ocasião, era a organizadora dos convidados do FICA (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental). Comentei desse namorado e ela logo disse: ‘ah, vamos colocar ele no júri’. E assim eu conheci o FICA”. O FICA acontece há anos em Goiás. Era 2005 e Suzana achou que seria interessante fazer um festival ambiental também no Rio de Janeiro. Foi assim que nasceu o Filmambiente, indo para sua oitava edição.

“De lá para cá mudou muito, as questões ambientais estão muito mais presentes no dia a dia, logo, tem muito mais cineasta, inclusive conhecidos, fazendo filme ambiental. Mas, naquele tempo, era uma coisa mais de militância, de guerrilha, só que tinha muito filme bom, especialmente filmes europeus, do norte da Europa, americanos e canadenses. Percebi que existia essa possibilidade e queria que os brasileiros começassem a produzir mais filmes, pois nós temos muitas questões ambientais também”, conta Suzana. Com isso, o assunto entrou de vez na vida de Suzana, que se tornou muito mais consciente do que era e passou isso para o filho Antônio: “ele é até mais consciente do que eu”, diz, orgulhosa.

Hoje, as questões ambientais e de desenvolvimento humano fazem parte dos projetos de Suzana. Dentre os vários planos para o futuro próximo está uma série que fará ao lado de Ana Rieper, diretora de “Vou Rifar meu Coração” (2011) e “5 Vezes Chico: O velho e sua Gente”(2015) sobre a natureza feminina. A ideia é filmar uma série que tem como cenário todos os biomas brasileiros e, como personagens, mulheres com um papel preponderante nessas regiões. “Essa série vai tratar das problemáticas de cada região e de suas especificidades a partir de personagens femininos”, conta.

Outro dos seus vários projetos se chama “Paraíso Tropical”, no qual a ideia é trazer para os dias de hoje a realidade do livro “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre. Para Suzana, a obra continua muito presente na vida brasileiro. “As minorias, a questão dos negros, a falta de diretos… Tudo que o ‘Casa Grande & Senzala’ traz ainda existe ao nosso redor e nem percebemos”, afirma.

Nas horas vagas, Suzana aproveita para dividir seu amor pela dramaturgia com sua outra paixão, o neto Joaquim, de 2 anos e meio, que é fã da animação “Marsha e o Urso”: “Ele adora história de urso, então contamos histórias de urso um para o outro”.

Conteúdo publicado em 23 de março de 2018

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