Coordenador e Diretor do Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP, na sigla em inglês) da UNESCO, Stefan Uhlenbrook ainda quer mudar o mundo

Por que hidrologia? No fim dos anos 1980 eu era ingênuo e queria salvar o mundo. Pensei que estudando água e sendo capaz de aconselhar as pessoas sobre como fazer uma melhor gestão da recurso eu estaria contribuindo para alcançarmos a paz e um desenvolvimento sustentável. Eu ainda sou ingênuo, então não acredite em mim. Mudar o mundo é provavelmente uma coisa muito grande, não sei se sou capaz de fazê-lo. Por outro lado, a mudança está em nós mesmos. Como cada um de nós contribui com o mundo para torná-lo um lugar melhor pode fazer a diferença. Se todos fizermos algo, vamos conseguir fazer a diferença. Eu faço isso profissionalmente, no meu trabalho, e tento fazer na minha vida privada o máximo possível. Mas, se todos nós fizermos algo, sinto que vamos ir além do estamos acostumados a fazer, e vamos caminhar para um lugar mais sustentável. As pessoas, no final das contas, fazem a diferença. Se você olhar para trás, e para o nosso planeta, que têm bilhões de anos, vai lembrar que nem sempre existiram pessoas. Achamos que somos o centro do universo, mas não somos. Estamos aqui faz um tempo, talvez estaremos por mais vários anos, não sabemos, mas esse possível futuro nos envolve. Não é sobre as pessoas, mas sobre ser um planeta sustentável, sobre ter a certeza de que ele que vai ser passado como herança para uma próxima geração de forma sustentável.

Ao 48 anos, casado com Sikle e pai de três filhos, Sina Yael, Linnéa Marie e Luca Maximilian Pluk, Stefan Uhlembrook tem um currículo que não deixa dúvidas sobre a sua paixão pelo meio ambiente, em especial pela água. “Água é absolutamente essencial, é essencial para o ecossistema, é a base da vida, é a base da inteligência humana, é a base para a humanidade viver nesse planeta. E não apenas para os seres humanos, mas para todos os seres vivos. É um tópico que deveria ser debatido com mais frequência, pois a água está conectada com a sociedade, com a economia — ela é muito importante para o desenvolvimento econômico — e com o meio ambiente. É um assunto cheio de conexões”.

Nascido em Neubeckum, na Alemanha, ele mudou recentemente de Delft, na Holanda — onde morou por dez anos atuando como professor — para Roma, na Itália. Lá ele coordena e dirige o programa de avaliação de recursos hídrico das Nações Unidas (WWAP, na sigla em inglês) dentro do escritório da UNESCO, localizado em Perúgia. O governo da Itália é quem patrocina o programa e, apesar da mudança depois de anos estabelecido nos Países Baixos, Stefan está satisfeito. “Roma é um lugar fantástico, é uma cidade ótima, incrível. A cultura, a beleza, a comida e, por fim, a qualidade de vida, que é realmente muito boa”.

Para além do trabalho, Stefan gosta de praticar esportes, de se sentir vivo, e de jogar bola com seu filho Luca, especialmente porque ele próprio jogou futebol quando era jovem e quis ser um profissional como seu filho quer ser aos 10 anos. “Ele quer ser um jogador na Alemanha. Você sabe, é um bom momento para ser jogador de futebol da Alemanha. Mas o pai dele não é super talentoso, então vamos ver. A mãe dele sim é muito boa em esportes, costumava dançar balé quando jovem, então vamos ver se ele consegue”, brinca Stefan.

No Brasil para lançar um relatório da ONU sobre soluções baseadas na natureza para a questão hídrica, Stefan quer traduzir a ciência. “Existem vários bons cientistas ao redor mundo, inclusive no Brasil, mas algumas vezes nós, cientistas, não somos muito bons em nos comunicar com efetividade. Por trás das equações e das imagens complicadas, há muito o que dizer, mas aqueles que fazem política precisam saber apenas o que é preciso saber, quais os desafios, quais os limites dessa abordagem e como seguir em frente. Então eu tento traduzir ciência complicada em uma linguagem compreensível a todos”, explica.

Para Stefan, o conhecimento científico precisa ser traduzido em uma língua que todos possam entender, mas especialmente quem faz políticas públicas, políticos e outros tomadores de decisão, porque eles fazem a diferença em um âmbito maior. “Eu tento informá-los, me comunicar com eles, deixá-los a par dos dados mais recentes e dos últimos conhecimentos que produzimos para que eles possam transferir isso para políticas sustentáveis”. Afinal, Stefan acredita que cada um de nós, inclusive aqueles que estão em cargos públicos e à frente de grandes empresas, pode mudar o mundo.

Conteúdo publicado em 22 de março de 2018

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