Em Suzano, São Paulo, a professora Bianca defende o meio ambiente e acredita que a educação é base para a revolução

Eu sempre fui militante. Na verdade, acho que nasci militante. Quando tinha nove anos já organizava as crianças para limpar a praça do bairro. Eu queria assistir novela e ser mais tranquila, mas eu sempre tive essa veia correndo dentro de mim, não consigo ser diferente. Acredito que não podemos militar por tudo, ou não fazemos nada bem feito. A primeira bandeira de luta que tenho na minha vida é a educação, a segunda é o meio ambiente, a terceira, que é o empoderamento feminino, eu mais acompanho. A educação porque o saber é revolucionário. Se nós estamos nessa situação caótica hoje é porque não há educação. As escolas ainda reproduzem um conhecimento arcaico, que não constrói novos saberes. Mas eu acredito na revolução por meio da educação. Porque um povo que sabe ler, um povo que questiona, não empodera qualquer um, e se empodera, sabe cobrar. A educação é o caminho para mudar esse sistema corrompido e falido.

Apaixonada pelo magistério, como ela mesmo diz, Bianca Carla Nunes da Silva viajou pela primeira vez sem os filhos e o marido para levantar a sua segunda bandeira, que é a do meio ambiente. Secretária do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Suzano, no interior de São Paulo, Bianca conhece e defende cada pedaço da sua cidade. “Minha principal bandeira é a criação de uma unidade de conservação. Suzano tem 60% do seu território em áreas de proteção de mananciais, mas não possui uma unidade de conservação”, conta. Foi estudando a vizinhança da sua casa que Bianca começou, há mais de dez anos, sua militância pela unidade de conservação, quando descobriu uma área verde com cinco nascentes de rios e nenhuma proteção.

“Eu tenho certeza: ou mudamos a forma como o ser humano se relaciona com a água ou não tem mais ser humano, não tem mais planeta, não tem mais nada. Não é que eu tenha uma visão apocalíptica, mas esse é o caminho, pois toda as causas vão ter consequências hoje, amanhã e depois. Ou a gente muda o hoje para mudar o amanhã e depois, ou não vai ter amanhã e nem depois. Simples assim, não tem meio termo”, acredita Bianca.

Criada numa casa só de mulheres, Bianca sempre gostou de ler e estudar, mas cresceu em uma família humilde que ganhava o suficiente para garantir apenas sua subsistência. Porém, na sua época de jovem, existia em Suzano um Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério, uma organização criada pelo governo Orestes Quércia. O curso funcionava em período integral, com duração de quatro anos em vários municípios do Estado de São Paulo. Para entrar, era preciso fazer vestibulinho, e quem passava recebia uma formação profissional e uma bolsa de estudos no valor de um salário mínimo. Foi assim que Bianca conseguiu, durante quatro anos, ajudar em casa e juntar dinheiro para pagar a faculdade e se tornar a primeira pessoa da família a ter Ensino Superior. Cursando Biologia na Universidade de Mogi das Cruzes, Bianca conheceu Antônio.

“Meu marido é quem mais sofre, porque às vezes eu me meto em cada bico de sinuca… E no começo ele não gostava. Teve uma vez que ele disse que se eu fosse para mais uma manifestação nosso casamento estava acabado. Eu sempre fui cabeça de greve, organizadora de movimentos. Na hora, eu gelei, porque eu amo ele. Mas era feriado do Dia da Consciência Negra na minha cidade, e na cidade em que ele trabalha, não. Então, eu pensei: o que os olhos não veem, o coração não sente. Fui para a manifestação achando que ninguém ia ver. Acontece que no outro dia eu era capa de jornal, com o punho em riste. Corri e fui atrás de tudo que era cópia no meu bairro, mas esqueci que meu sogro assinava. Foi quando eu falei que tinha nascido assim, que não adiantava forçar e ele foi aceitando. Estamos juntos há 13 anos e sei que ele sofre, às vezes, mas ele é meu porto seguro. Quando eu me envolvo em alguma situação difícil é para ele que eu choro”.

Mãe de Samuel, José e Maria, Bianca hoje estuda em casa quando sobra tempo, entre o trabalho e a família, pela internet, comprando livros e assistindo a vídeos. Sobre seus filhos, ela espera que cada um construa suas próprias verdades. “A única coisa que eu falo mesmo, desde bebê, é que é preciso aprender, mas não para ter um conhecimento morto. Que eles precisam adquirir conhecimento para ter a sabedoria necessária para modificar o seu meio, o sistema, porque se você aprende e não muda o meio onde vive, então é um saber inútil, é um conhecimento morto. Mas meu objetivo não é vencer o sistema, é contribuir para que um dia esse sistema caia, então eu faço minha parte”.

Conteúdo publicado em 21 de março de 2018

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