Por: Paulo Biacchi*
Durável, reutilizável e reciclável: o plástico é um material perfeito para pensar a sustentabilidade. Mas, nem por isso, temos que colocar o plástico em tudo. Pensar em projetos mais racionais começa na concepção e segue durante o desenvolvimento do produto. Misturar um material reciclável com outros dificulta o descarte e pode até inviabilizar a reciclagem.
Uma das premissas do design é criar objetos duradouros – que resistam ao tempo e fujam dos modismos. A ideia é que esses objetos integrem uma estética atemporal para que o produto seja considerado um bem e possa passar de pai para filho. Aí, temos a “sustentabilidade afetiva”, um termo meio inventado, mas que gosto bastante.
Eu mesmo tenho umas cadeiras de plástico que são italianas, comprei há doze anos e elas estão inteiras. Elas têm uma história, porque eu comprei em um lugar onde eu trabalhava, posso falar sobre isso para os meus amigos e familiares. Não existe nenhuma razão para essas peças serem descartadas, mas são 100% de polipropileno. O desenho é completamente sustentável.
Desafio de Design
Com esse olhar para o design e o plástico, há dois anos me envolvi com o Desafio de Design, criado em 2012 pela Braskem. Em parceria com o Estúdio Fetiche, apresentamos o plástico aos futuros arquitetos e designers como um material versátil e adaptável, que viabiliza a inovação e a solução de problemas. O programa, que já está na sua sexta edição, acompanha o trabalho de estudantes do nível de graduação de sete universidades em São Paulo. Os estudantes trabalham sob a supervisão e avaliação da equipe que eu coordeno.
Mais do que uma competição, o Desafio de Design é uma capacitação. O que a gente vem fazendo nas duas últimas edições é formar novos profissionais para trabalharem com plástico. E isso não é ensinado nas universidades atualmente, então nosso programa funciona como um intensivão de férias, onde os alunos são capacitados para trabalhar com projetos e para observarem a sustentabilidade e todos os processos que envolvem a cadeia do plástico.
A metodologia é profundamente transformadora, não só para os estudantes, mas para nós e para todos os envolvidos. Os profissionais participantes contribuem com informações fundamentais que mudam não só a nossa rotina de trabalho, mas também a nossa vida pessoal. Eles mudam nossa compreensão sobre o consumo e o descarte, transformam nosso olhar e incentivam nossa criatividade e responsabilidade.
Nós, do Estúdio Fetiche, adoramos essa experiência e encontramos formas cada vez melhores de receber os estudantes que chegam aqui sem conhecimento específico sobre o plástico e, em dois meses, se tornam especialistas. A gente sempre fala que trabalho, para a gente, é relacionamento. Essa é a nossa maior entrega: formação humana, comunicação a respeito dos benefícios sociais do design e a responsabilidade ambiental.
Benefícios sociais
Pelo canal do YouTube, as inserções na TV, os programas ou o nosso trabalho cotidiano com indústrias e o desenvolvimento de produtos, o Estúdio Fetiche comunica a importância do design de qualidade. Nosso objetivo é democratizar o design e sua relevância como benefício social.
Trabalhamos para disseminar o pensamento mais racional, seja com os materiais, seja com projetos. Nosso esforço é mostrar como aproveitar os objetos da melhor forma possível e diminuir o descarte. É ensinar as pessoas a avaliarem não só a estética, mas a função do objeto e a vida útil que ele pode ter.
Colocamos em discussão formas mais sustentáveis de lidar com os produtos do dia a dia – como podemos reutilizar ou ressignificar esses materiais. Queremos incentivar a mão na massa pelo público – às funciona como uma terapia, às vezes como ganho de capital ou como negócio. Cultivar o carinho pelo resultado das nossas escolhas de consumo é fundamental.
* Paulo Biacchi é designer industrial, sócio do Estúdio Fetiche, apresentador, coordenador e mentor do programa Desafio de Design em parceria com a Braskem
Conteúdo publicado em 30 de novembro de 2018