Em menos de um mês, o desenho “Min e as Mãozinhas” já tem mais de 150 mil visualizações: seu objetivo é divertir crianças surdas e ajudar a alfabetizar em Libras as crianças ouvintes
A menos de um mês no ar, o desenho Min e as Mãozinhas já registrou mais de 150 mil visualizações no YouTube. Trata-se do primeiro episódio de uma série prevista para ter 13 capítulos, todos eles produzidos pelo animador Paulo Henrique Rodrigues. O que “Min e as Mãozinhas” tem de mais especial é o fato de ser o primeiro desenho animado totalmente na Língua Brasileira de Sinais (Libras) produzido no país.
Idealizador do projeto, Paulo Henrique afirma que o objetivo é entreter o público surdo, mas também colaborar com o ensino de Libras para crianças ouvintes – idade que estão mais abertas para a inclusão e para aprender uma nova língua. “A realidade das crianças surdas é que elas não têm um entretenimento para que possam simplesmente sentar e aproveitar”, diz Paulo Henrique.
A história do desenho tem como pano de fundo a necessidade da personagem principal, Min, de se comunicar com os animais. “O Elefante fala a língua do elefante, o Gato fala a língua do gato, e assim ninguém se entende. Mas Libras surge como solução para eles. Com o aprendizado dessa nova língua, eles conseguem se comunicar sem medo e ficar cada vez mais amigos, em uma sociedade mais compreensiva e inclusiva”, explica o idealizador do projeto.
A ideia de desenvolver “Min e as Mãozinhas” nasceu em um casamento, no qual Paulo Henrique tentou fazer uma comunicação simples com uma mulher surda e não teve sucesso – na ocasião, sequer conseguiu pedir o sal. Então, o animador, que já participou da produção de desenhos como “Turma da Mônica” e “Sítio do Pica-pau Amarelo”, decidiu que faria algo para colaborar com a inclusão.
Para produzir Min e as Mãozinhas, Paulo Henrique trabalhou junto a professores e intérpretes de Libras, que auxiliaram a produzir um roteiro que fosse capaz de funcionar como um material didático para crianças ouvintes se introduzirem na nova língua. O público-alvo do desenho animado são crianças de 3 anos a 6 anos.
No Brasil, de acordo com o Censo de 2010 realizado pelo IBGE, 9,7 milhões de pessoas têm algum grau de deficiência auditiva. Deste total, 2,1 milhões apresentam deficiência auditiva severa. Cerca de 1 milhão deles é criança ou jovem.
A população brasileira surda é homenageada todo dia 26 de setembro, instituído em 2008 como o Dia Nacional do Surdo. A data remete à criação da primeira escola de educação de meninos surdos no Rio de Janeiro, obra do governo imperial de Dom Pedro II – e esta foi a data escolhida por Pedro Henrique para o lançamento de “Min e as Mãozinhas”. No local onde a escola foi fundada, hoje funciona o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines).
Esta escola se tornou referência no país para educação de crianças surdas e para formação de professores habilitados para lecionar a esta população. Lá, a língua de sinais francesa se misturou com uma linguagem de sinais brasileira em formação e, juntas, deram a primeira forma ao que conhecemos hoje como Libras.
Durante quase um século, pedagogos e educadores debateram se a língua de sinais seria o melhor caminho para educar crianças surdas e apenas em 1993 surgiu o primeiro projeto de lei com o objetivo de regulamentar e oficializar a Libras como um idioma brasileiro. Em 2002, finalmente a língua brasileira de sinais foi aceita como a segunda língua oficial brasileira.
Embora tenha alguma relação com a língua portuguesa, a Libras é uma linguagem nativa e estritamente brasileira. Portugal, por exemplo, tem outro idioma para pessoas surdas, a língua gestual portuguesa (LGP).