Especialista em sustentabilidade, Camila faz do estudo e da sua presença em grandes empresas uma ferramenta para mudar o mundo

As responsabilidades das empresas não se esgotam com a geração de empregos. Suas atividades têm impactos e consequências que precisam ser levadas em conta. Esse é um assunto que as empresas estão repensando e minha atuação tem sido ao lado dessas grandes empresas. Elas têm de acompanhar a agenda da sustentabilidade, pois o impacto delas é enorme. E vemos que quando as empresas já nascem com esse propósito, é muito mais fácil e fluido – o impacto é genuíno. Já pensei em trabalhar com o governo na questão social, mas hoje, por sempre ter trabalhado no mundo empresarial, a minha ferramenta é a empresa. Então tento usar essa ferramenta para ajudar a mudar o mundo. Acredito que já deixei algo dentro das empresas pelas quais passei. O que tenho mais orgulho é de encontrar pessoas que não me conhecem, mas que reconhecem o trabalho que fiz. Encontrei, recentemente, jovens engenheiros da Thyssenkrupp que fizeram um trabalho de curso sobre um elevador que usa energia renovável. Fui eu quem comecei esse projeto, e que bom que ele permaneceu após a minha saída. Deixar essa cultura de sustentabilidade nas empresas é o legado que eu gostaria de ver.

Aos 30 anos, Camila Luconi Viana circulou muito. Nascida em Porto Alegre, ela já morou em Estância Velha e São Leopoldo, cidades da região metropolitana, na Espanha, Chile, Canadá e França. “Vivi em oito lugares diferentes em menos de três anos, então tive que deixar tudo pra trás várias vezes – minhas coisas, minha escola, meus amigos. Hoje, uma característica que tenho é a resiliência – o que é bom, por que para ser um profissional de sustentabilidade, é preciso ser resiliente. Ouvimos muito “não”. E não é só de vez em quando, é quase sempre: “não”. As vitórias, quando vêm, são pequenas. Mas a gente não pode desistir”, diz ela, que foi painelista na Virada Sustentável de Porto Alegre, que aconteceu entre os dias 6 e 8 de abril.

Formada em Administração com ênfase em Gestão e Inovação em Liderança, cursada na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Camila gosta de estudar e sempre investiu na própria formação. Além desse bacharelado, ela acumula os títulos de mestre em Gestão e Negócios pela mesma instituição e mestre em Gestão pela Universitè de Poitiers, na França. Camila tem ainda dois mestrados em administração de negócios (MBA) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e deu início a uma especialização em cooperativismo na Unisinos, já que hoje ela trabalha no Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi).

“Comecei na área de finanças e vi que aquilo não fazia meu olho brilhar. Era uma área de estudo que não me encantava. Sempre valorizei grandes causas. E, com o tempo, percebi que dava pra juntar administração, que era minha formação, com algo fizesse a diferença, que tivesse impacto positivo para o mundo, fosse esse impacto ambiental ou social. Na época, paralelamente ao meu trabalho na Thyssenkrupp, passei a atuar como voluntária em vários projetos até que conseguimos provar que era necessário ter uma área, dentro da empresa, dedicada ao assunto. E conseguimos criar esse departamento”, conta Camila, que dedicou quatro anos a esse projeto.

A saída da Thyssenkrupp veio com o sentimento de dever cumprido. “No momento em que tu escolhe ser uma profissional de sustentabilidade a tua vontade é de impactar. Percebi que na Thyssenkrupp tinha conseguido criar esse impacto, então fui pra outra organização onde eu pudesse aprender mais sobre sustentabilidade aplicada ao mundo financeiro, e que fosse um pouco mais diversa”, explica.

Para Camila, o cooperativismo é tem essência mais diversa porque ele costuma estar presente em lugares onde poucos se dispõem a ir. “[O Sicredi] está em uma série de cidades onde nenhum banco topou estar, por exemplo. Ele nasce num mundo onde os pilares econômico e social não existem um sem o outro. Já entrei no Sicredi tentando implantar o conceito de sustentabilidade, porque ela é uma filosofia que coloca as pessoas no centro. Na sustentabilidade, a empresa funciona como um meio para gerar qualidade de vida para pessoas e para as comunidades. Ela tem um fim mais econômico do que lucrativo”, afirma. Para Camila, a gestão do meio ambiente é boa também para a empresa, pois ajuda a reduzir custos, além de trazer outros benefícios. “Me fascinam as relações em que você consegue estabelecer um ganha-ganha-ganha [a empresa, as pessoas e o meio ambiente]”, diz.

Atenta às questões de gênero, Camila sabe que a proporção de homens e mulheres ocupando os mesmos cargos ainda não é a mesma, seja no Rio Grande do Sul ou no Brasil. Mas há importantes ganhos na adoção e cumprimento, pelas empresas, de metas e políticas internas nesse sentido. “Sempre digo que, se me deixassem criar políticas numa empresa, uma das primeiras coisas que eu faria seria dar licença paternidade para aos homens. Temos que mostrar que não é um problema contratar uma mulher, pelo contrário, há benefícios não só no olhar que ela traz, mas também nas experiências que ela teve, que são diferentes. Dar espaço para uma visão complementar de mundo dá retorno para as empresas, que vão mais longe”, comenta Camila.

“Costumo ouvir, das pessoas com quem já trabalhei, que nasci na época errada por que sonho com mudanças mais rápidas e profundas do que as que estamos vendo”, afirma. “Mas estou há 10 anos trabalhando com sustentabilidade e digo que já foi pior – hoje tem muito mais gente falando no assunto. Do jeito que eu sonho, precisava ser ainda mais rápido. É uma roda que a gente precisa girar, que está devagar e é gigante – mas está melhorando”.

Conteúdo publicado em 10 de abril de 2018

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